Uma bolinha nunca foi tão importante

Cesar Crivelli 19/06/2021 13:00 4 min
Uma bolinha nunca foi tão importante

Temos um cachorro aqui em casa, o Torrada.

O pestinha – um filhote de golden retriever, com oito meses – até uns meses atrás não dava a mínima para bolinhas. Tentamos bolinhas de tênis, bolinhas de plástico, bolinhas leves, pesadas, enfim, foi uma certa frustração, afinal ele é um retriever e deveria trazer as coisas de volta para nós.

Para vocês terem ideia da frustração, em algumas ocasiões, nós jogávamos a bolinha, ele olhava para ela, olhava para nossa cara e simplesmente deitava no chão, um verdadeiro bicho-preguiça.

No entanto, de umas semanas para cá, a coisa mudou radicalmente! Ele agora adora bolinhas e traz todas de volta – tá bom, quase todas, rs.

Quando vamos para algum espaço como um parque ou uma praça, ele fica vidrado na tal da bolinha, tornou-se algo muito importante para ele, ao menos por enquanto. Não sabemos o que aconteceu. Talvez ele tenha aprendido na escolinha, onde passa duas tardes na semana se divertindo com os AUmigos, a brincar de bolinha.

Cada bolinha em seu devido lugar

Temos uma gaveta de brinquedos para o Torrada. Em todos os vídeos de adestramento que assistimos, era dito que os brinquedos precisam ser rotacionados e guardados para que ele valorize o momento da brincadeira.

Seguindo a recomendação, deixamos alguns brinquedos pela casa e os trocamos de vez em quando, assim ele sempre acha que tem brinquedos novos.

Mas vamos parar de falar do Torrada e mudemos para o assunto que realmente interessa a vocês, o mercado financeiro.

Nesta semana, tivemos a reunião do FOMC, um comitê formado por diversos membros (mais adiante representaremos cada membro por uma bolinha em um gráfico), que se reúne algumas vezes no ano para discutir e decidir a taxa básica de juros dos Estados Unidos.

Assim como os brinquedos do Torrada, alguns dos membros são trocados de tempos em tempos.

Voltando…

A decisão do comitê foi pela manutenção da taxa de juros entre o patamar de 0 a 0,25 por cento ao ano, o que era esperado. O mercado esperava que ele desse algum detalhamento a respeito dos programas de estímulos monetários, a exemplo da intervenção no mercado de títulos, feita mensalmente até o montante de 120 bilhões de dólares, mas não houve mudança nesse sentido.

Mas algo muito importante mudou. As bolinhas (os membros) mudaram de lugar!

Vou explicar para vocês:

No gráfico abaixo, temos duas figuras que mostram dados sobre as reuniões do FOMC. A da esquerda ocorreu em março e a da direita reproduz a opinião dos membros na reunião desta semana.

Muito importante: cada bolinha azul representa a opinião de um membro do comitê e a expectativa dele(a) para a taxa de juros ao final de determinado ano.

Vejam que, do eixo horizontal, temos informações para 2021, 2022, 2023 e longo prazo. Já no eixo vertical do gráfico, temos a taxa de juros, que sai de zero e vai até 4 por cento lá no topo do gráfico.

A dança das bolinhas foi a seguinte:

Na reunião de março (gráfico da esquerda) tínhamos apenas 4 poucos do comitê dizendo que acreditavam em uma taxa de juros perto de 0,50 ou 0,75 ao ano em 2022, mas na reunião desta semana (gráfico da direita), 7 membros disseram que acreditam que a taxa deve subir em 2022. Parece pouco, mas não é.

Começa a se criar um movimento dentro do comitê a favor de um aumento mais rápido da taxa de juros nos Estados Unidos, baseado principalmente no aumento da inflação e na retomada da atividade econômica, que já está bem forte.

Mas não paramos por aí…

A maior mudança nas bolinhas aconteceu em relação às expectativas de 2023. Notem que, na reunião de março (gráfico da esquerda), 7 membros esperavam uma taxa de juros superior a 0,25 por cento ao ano. Já nessa última reunião (gráfico da direita) foram 13 indicações nesse sentido.

Na reunião de abril (gráfico da esquerda), 7 membros esperavam uma taxa de juros superior a 0,25 por cento ao ano. Já nessa última reunião (gráfico da direita) foram 13 indicações nesse sentido.
Fonte: Federal Reserve, elaboração Nord Research

Nunca foi tão importante estar atento às bolinhas, minha gente! As expectativas em relação à taxa de juros dos Estados Unidos para 2023 mudaram radicalmente, apontando para uma subida mais rápida dos juros.

O próprio Banco Central americano (FED) revisou suas projeções positivas para o crescimento do PIB americano entre a reunião de março e a desta semana, mas também aumentou consideravelmente a projeção da inflação para 2021 e marginalmente para 2022. Isso pode ter influenciado a troca de opiniões. Para conter a inflação, normalmente o instrumento utilizado é um aumento nos juros.

Fonte: Federal Reserve, elaboração Nord Research

Nunca foi tão importante acompanhar o movimento das bolinhas, visto que um aumento mais rápido dos juros nos Estados Unidos pode influenciar o humor do mercado e o preço de vários ativos.

Vamos ficar de olho e manteremos todos informados em relação à dança das bolinhas. Enquanto isso, o humor do Torrada – diferentemente do observado no mercado nesses últimos dias – segue inalterado, ele continua adorando bolinhas.

Torrada
Torrada, que hoje adora bolinhas

Até semana que vem!

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