Russia, Ucrânia e Bitcoin

Uma análise do cenário muito além do preço

Luiz Pedro Andrade de Oliveira 26/02/2022 12:00 4 min
Russia, Ucrânia e Bitcoin

Olá, pessoal! Eu sou o Luiz Pedro, responsável pelo Nord Crypto Master, a carteira de criptoativos da Nord.

Esta semana foi muito importante para o mercado de cripto global.

A invasão da Rússia à Ucrânia traz implicações importantes ao mercado de criptoativos, que vão além do preço.

A guerra e as implicações no Bitcoin

Nos períodos que antecederam a invasão russa no território ucraniano, ocorreram alguns episódios de “aproximação” do governo de Putin com o Bitcoin.

Tudo começou quando o Banco da Rússia se pronunciou publicamente apoiando a proibição da mineração de Bitcoin e da criptomoeda como um todo no país.

Putin e seu governo foram veementes em vetar tal ideia. O presidente russo enxerga uma “vantagem competitiva” para o país, tanto na mineração quanto na negociação de criptoativos.

Desde 2021, a Rússia detém cerca de 13 por cento do poder computacional ligado à mineração de Bitcoin, sendo assim, é o terceiro país mais relevante no ramo (atrás apenas dos EUA e do Cazaquistão).

Segundo estudo realizado pela TripleA, em fevereiro de 2021, a Rússia já era o segundo país que teve maior adoção de criptoativos pela sua população em termos percentuais, cerca de 11,9 por cento da população. Por incrível que pareça, a Rússia está atrás de um único país nesse quesito: a Ucrânia, onde cerca de 13 por cento da população detinha criptoativos à época da pesquisa.

Tabela apresenta número de detentores por país.
Número de detentores por país. Fonte: Triple A.

Infelizmente, não há dados confiáveis de pesquisas mais recentes. Hoje, provavelmente, El Salvador figura entre os líderes deste ranking, porém a relevância de Ucrânia e Rússia se mantém.

A guerra entre os dois países teve um impacto imediato nos criptoativos, por incerteza quanto ao envolvimento de outros aliados na guerra. Porém, o pronunciamento de Biden trouxe um clima mais “ameno” ao mercado, propondo apenas sanções econômicas, no primeiro momento, sem envolvimento bélico na guerra.

Apesar da recuperação do preço, subsequente a esse posicionamento do presidente dos EUA, as implicações dessa guerra podem ir além.

As sanções econômicas impostas à Rússia podem vir a incluir um corte do SWIFT, sistema internacional de transações interbancárias. Isso traria restrições comerciais ainda mais severas do que as já impostas ao país multicontinental.

Os empresários russos, que sofrem com esses embargos, têm uma alternativa ao sistema bancário em suas mãos: o Bitcoin. Os Estados Unidos sabem disso. Em 2021, o Tesouro dos EUA declarou, em um relatório público, que as moedas digitais diminuem a força restritiva do país ao aplicar embargos em cenários como este.

Olhando pelo outro lado, o Bitcoin também pode ter um papel fundamental na vida dos ucranianos. O Bitcoin já é extremamente adotado no país, tendo em vista que, em 2021, foram processadas mais transações com a criptomoeda do que com a moeda local, Grívnia.

Para os cidadãos ucranianos, o Bitcoin e as criptomoedas podem ser utilizados como uma ferramenta de liberdade econômica, livrando-se dos bancos e das possíveis medidas restritivas sobre saques e movimentações financeiras no país. Em um cenário de tomada total do território, é mais interessante o cidadão ter em posse Bitcoin, que tem um valor global e que não pode ser censurado, do que a moeda local, que tende a perder valor, visto que o país está em guerra.

É ruim que seja necessário um cenário tão caótico para o Bitcoin mostrar seu valor. Mas é importante, para nós, vermos isso e entendermos que não é porque o Bitcoin é “apenas um investimento” na nossa “bolha socioeconômica” que é assim no mundo todo.

Em países com cenários altamente inflacionários, com baixo acesso da população ao sistema monetário e/ou em cenários de crise/guerra, o Bitcoin pode exercer um papel fundamental que as moedas fiduciárias não são capazes, por estarem intrinsecamente ligadas ao causador do problema: a nação à qual esses países respondem.

Espero que tenham um bom fim de semana e um bom carnaval. Vamos torcer, juntos, para que essa guerra traga a menor devastação possível, não econômica, mas socialmente falando.

Um abraço,

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