Quais São Os Riscos Das Ações?

Entender, reconhecer e controlar o risco são etapas primordiais durante o processo de investimento.

Rafael Ragazi 21/09/2020 03:00 7 min Atualizado em: 20/04/2021 00:13
Quais São Os Riscos Das Ações?

Definindo o risco

O sucesso (ou insucesso) dos seus investimentos em Ações depende de coisas que ainda vão acontecer, mas (infelizmente) nenhum de nós é capaz de prever o futuro, dessa forma, as incertezas e, consequentemente, o risco, são inevitáveis.

Se não é possível eliminar o risco, precisamos ao menos entendê-lo, reconhecê-lo e controlá-lo. Tomar riscos é algo indissociável e natural ao investimento em Ações, mas é preciso ter cuidado com algumas “verdades” que são comumente assumidas.

Muitas pessoas assumem que investimentos mais arriscados proverão retornos maiores e optam por tomar mais risco visando ganhar mais dinheiro.

Mas essa é uma premissa que não deve ser assumida em todas as ocasiões, afinal, se Ações mais arriscadas garantissem maiores retornos, elas não seriam mais arriscadas.

Ao longo dos anos, as teorias acadêmicas sobre finanças decidiram adotar a volatilidade (o quanto as Ações oscilam) como medida de risco, pois ela indicaria o nível de incerteza envolvido em uma ação.

Isso é uma simplificação acadêmica, que existe por conta da comodidade matemática e da dificuldade de quantificar os elementos que eu apresentarei a seguir, mas que não faz muito sentido na vida real.

Similarmente, buscar reduzir o risco com a diversificação baseada na correlação (as diferenças ou similaridades no sentido e intensidade das oscilações de dois ativos) também é algo que não faz muito sentido na prática.

Isso porque o risco ao investir em Ações está muito mais ligado a você saber o que está fazendo, onde está pisando. O risco para quem investe em Ações é a probabilidade de perda definitiva de capital.

E quando isso pode acontecer?

Quando algo dá errado, por exemplo: quando um novo evento muda a realidade de uma empresa, uma empresa decepciona as expectativas repetidamente e entendemos que é melhor jogar a toalha ou simplesmente quando enxergamos que cometemos um erro de análise.

Por isso, investir fora do círculo de competência (em negócios que não é capaz de compreender adequadamente) é algo bastante arriscado, e isso não tem nada a ver com volatilidade ou com a quantidade de ativos na sua carteira.

Assim sendo, devemos nos preocupar com os riscos de cada um dos negócios em que investimos e em como está nossa exposição aos fatores de risco existentes em nosso portfólio.

Reconhecendo o risco

Antes de conseguir controlar o risco, é preciso reconhecer as fontes de risco.

Quando o assunto são as Ações, a principal fonte de risco é o preço, por uma razão muito simples: quanto maior o preço, maiores são as expectativas do mercado e, consequentemente, maior o espaço para perda de capital caso algo dê errado.

Porém, o risco também pode vir de negócios muito complexos, o que aumenta a chance de algo dar errado na execução da estratégia da empresa ou de cometermos um erro de análise.

Assim como vem de negócios endividados, uma vez que as empresas precisarão pagar os juros e amortizar suas dívidas, independentemente de sua operação ter performado bem ou mal em determinado período.

Negócios altamente dependentes da fase do ciclo econômico, o que chamamos de empresas cíclicas, também são negócios com elevado nível de incerteza, uma vez que seus resultados futuros podem ir muito bem ou muito mal, a depender da intensidade dos ventos a favor ou contra.

Mudanças na regulamentação/legislação, alta concentração em poucos clientes/fornecedores, dependência de pessoas chave, tecnologia em declínio ou sendo ameaçada por produtos substitutos, acidentes, problemas relacionados à governança, dentre outros, também podem ser citados como exemplos de fatores de risco de uma empresa.

Não tenho a pretensão de elencar todos os possíveis riscos atrelados a uma Ação, primeiro porque este texto ficaria longo demais e segundo porque os riscos mais perigosos são exatamente aqueles que não estão na superfície, que não são facilmente enxergados.

O importante é entender que são diversas as fontes de incertezas com potencial de afetar negativamente os resultados de uma empresa, e que o preço de uma Ação é o que vai lhe dizer qual é o tamanho da perda de capital que você poderá incorrer no caso de um evento negativo se materializar.

A combinação de arrogância e incapacidade de entender e escolher adequadamente os riscos pode ser fatal para quem não se esforça o suficiente para controlar o risco de sua carteira.

Inclusive, a crença de que o risco é baixo é um elemento primordial para criar risco de verdade. Quanto maior o nível de otimismo, mais excessos são cometidos. No fim das contas, o nível geral de risco está muito mais relacionado ao comportamento dos investidores do que aos ativos em si.

Howard Marks descreveu brilhantemente esse paradoxo em seu espetacular livro The Most Important Thing:

Controlando o risco

Se o risco está relacionado ao nível de incerteza, à potencial materialização de eventos negativos e ao preço de uma ação não podemos evitá-lo. Mas podemos controlá-lo.

Investir com ampla margem de segurança é o principal mecanismo para reduzir risco. Comprar uma empresa substancialmente mais barata que seu patrimônio líquido ou sua capacidade de geração de lucros é a estratégia de menor risco já inventada.

O risco de perda não vem necessariamente de um ativo com fracos fundamentos, mas sim de uma discrepância entre o real valor de uma empresa e seu preço comprimida, inexistente ou até negativa.

A volatilidade, muitas vezes tratada como inimiga, pode ser sua amiga quando utilizada a seu favor.

Em diversos momentos, vamos observar Ações andando em intensidade ou até em direções diferentes daquilo que está acontecendo com os fundamentos da empresa, e você pode se aproveitar dessas divergências para aumentar ou reduzir suas posições oportunisticamente. Quanto mais barata uma empresa fica, maior a margem de segurança.

Além disso, é importante analisar cada negócio com um nível de profundidade adequado. Você não deve, por exemplo, assumir que algo é bom ou ruim por estar em determinado setor, esquivar-se de opiniões contrárias à sua visão, muito menos subestimar o potencial de mudanças nas perspectivas futuras dos negócios.

Ademais, como é impossível eliminar o risco, você deve escolher cuidadosamente quais os tipos de risco está disposto a correr.

Você topa investir em empresas com baixa visibilidade de crescimento, comoditizadas/dolarizadas, que estão em um setor que está passando por grandes mudanças tecnológicas ou de hábito dos consumidores, que estão passando por sérios problemas de endividamento, que estão sujeitas a um evento binário (privatização ou M&A, por exemplo), que têm algum histórico negativo relacionado à governança?

Empresas que apresentam os fatores de risco citados acima podem ser ótimos ou péssimos investimentos, diversos outros aspectos precisam ser levados em consideração, mas o importante é que você esteja consciente e confortável com os riscos que topou assumir, só assim você conseguirá se manter focado no realmente importa e não deixará suas emoções influenciarem negativamente sua tomada de decisão e, consequentemente, o retorno de sua carteira.

Investindo com amplo conhecimento das empresas e com confortáveis margens de segurança é possível ter uma carteira mais concentrada e, ao mesmo tempo, de menor risco.

O fato é que na Bolsa ninguém vai colocar uma arma na sua cabeça e te obrigar a agir, não há necessidade de agir por impulso nunca. O mercado sempre vai estar funcionando no dia seguinte e, caso alguma oportunidade tenha sido perdida hoje, você encontrará outra amanhã. Fugir das armadilhas do mercado é tão importante quanto encontrar as melhores oportunidades.

Se você não está conseguindo identificar adequadamente os riscos de uma empresa ou se simplesmente não se sente confortável com os fatores de risco de um negócio, não invista.

Se sua carteira está concentrada demais em determinado fator de risco, mesmo que composta por empresas de setores diferentes, vale a pena reconsiderar sua composição de ativos.

E é claro, nunca se esqueça da importância de manter o foco no longo prazo.

No curto prazo, o mercado é uma urna de votação, muito dependente das expectativas e do humor do investidores. No longo prazo, é uma balança em que o que vai ser medido são os resultados efetivamente entregues pelas empresas.

Um abraço,

Ragazi.

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