O valor do amanhã

Marilia Fontes 19/07/2021 12:41 6 min
O valor do amanhã

No fenomenal “O Valor do Amanhã", de Eduardo Giannetti, há um ensaio sobre o valor das trocas intertemporais, ou seja, o quanto você aceita de custo hoje em nome de um benefício futuro. Você, leitor, prefere viver depois e pagar agora? Ou viver agora e pagar depois?

Se você for como a maioria dos brasileiros, certamente preferirá viver agora e pagar depois, com muito… muito juro.

O autor chama os juros de “preço da impaciência”. O que é genial é entender que cada pessoa se comporta de uma forma diferente. Há pessoas mais impacientes que outras e, da mesma forma, há sociedades mais impacientes que outras.

Tive o prazer imenso de ser aluna dele e assistir a uma palestra sobre o valor do amanhã. Giannetti menciona, por exemplo, que nos comportamos de forma diferente na infância, na juventude e na velhice.  

Em um experimento com crianças de 4 anos, foi oferecido o chocolate preferido de cada uma. Imediatamente, elas ganhariam um chocolate ou, caso esperassem 20 minutos, dois chocolates.

A criança poderia tocar o sino a qualquer momento e receber apenas um chocolate (se fosse antes dos 20 minutos). O resultado foi que 100 por cento das crianças optaram por comer apenas um chocolate antes dos 20 minutos. Já aos 12 anos, 60 por cento esperaram 20 minutos.

Seguindo o estudo ao longo do tempo, perceberam que as crianças de 4 anos que aguentaram por mais tempo antes de tocar o sino obtiveram melhores notas no ensino fundamental, entraram em maior número na faculdade e se envolveram menos em conflitos familiares ou legais.

Descobriram também que, estatisticamente, crianças que contavam com a presença do pai no dia a dia apresentavam índices de paciência melhores. O pai representa, possivelmente, a entidade responsável por dizer “não”, gerando a capacidade de lidar com adversidades e restrições. Nas palavras de Giannetti, isso é responsável por criar “musculatura”.

A infância é crucial na formação do nosso caráter. Então, para os pais que dão muita molezinha para os filhos, fica o recado: vai faltar musculatura lá na frente!

Na juventude, as coisas mudam. As alterações hormonais aumentam a impulsividade, e isso ocorre principalmente nos homens.

A impulsividade fazia sentido na época dos primatas. Homens caçavam e tinham que aproveitar a energia para conquistar os desafios da sobrevivência.

Na sociedade atual, isso é um problema, e somos chamados a fazer as escolhas mais importantes da vida (profissão, casamento) exatamente nessa fase de alta impulsividade. Giannetti comenta que não é à toa que mais da metade da população carcerária é composta de homens jovens. Há uma falha na ponderação da paciência.

Além da impulsividade, somos muito otimistas na juventude e confiamos demasiadamente no futuro. Isso explica, por exemplo, o uso indiscriminado de drogas, inclusive aquelas com sequelas permanentes. Se houvesse uma racionalização do custo x benefício das drogas, haveria tantos jovens nessa onda? Certamente não! Ainda mais nos tempos de hoje.

No passado, isso não fazia tanta diferença. Vivíamos menos. Hoje, temos que conviver por muito mais tempo com as consequências dos nossos atos. Com expectativa de vida de 40 ou 50 anos, o tabagismo não chegava a ter “juros”. Não vivíamos para ver as dificuldades geradas por seu uso indiscriminado. Agora, o cigarro foi banido da convivência social.

O envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida está fazendo com que todos nós tenhamos que poupar mais! Poupar mais saúde, mais dinheiro, mais prazeres momentâneos. Sairá melhor posicionado dessa realidade o indivíduo menos impaciente e impulsivo. E, para isso, pais e mães, é preciso musculatura!

Se você é daqueles que não pratica nenhum esporte, também deve ter dificuldade para juntar dinheiro. O valor do amanhã para você parece pequeno, não é? Você é daqueles que terão que esperar a chegada dos 75 ou 80 anos, cheios de doenças e dores, com falta de disposição e de dinheiro para curtir a família para perceber que deviam ter se cuidado?

Mas vamos em frente com Giannetti…

Ele diz que, na maturidade, há um serenamento da impulsividade juvenil, de modo que já somos capazes de ponderar de forma mais neutra. Conseguimos perceber melhor o valor do amanhã. É, por exemplo, o momento em que prestamos mais atenção no dinheiro e na construção de patrimônio. Não por outro motivo, grande parte dos nossos assinantes está entre os 30 e 55 anos.

Mesmo assim, temos uma grande armadilha que ele chama de “desconto hiperbólico”.

Funciona mais ou menos assim: quando a situação está no futuro distante, você consegue ponderar os prós e contras brilhantemente (utilizando seu córtex pré-frontal) e planejar as melhores escolhas. Mas quando você se aproxima da decisão, seu sistema límbico entra em ação e você sucumbe aos prazeres do agora.  

Por exemplo, quantos de vocês já planejaram poupar um dinheiro que iriam receber no futuro? Somos ótimos em poupar um dinheiro que ainda não recebemos. Mas quando o dinheiro cai na conta, quantos de vocês resistem à tentação de gastar com uma ou outra coisinha?

Difícil, não é? Faltou musculatura…

Mas Marilia, o que isso tem a ver com a Renda Fixa?

Oras, tem tudo a ver com o poder da renda fixa na sua vida! A Renda Fixa lida com juros. Lida exatamente com o valor do amanhã. A renda fixa premia quem é mais paciente. Os juros compostos funcionam como uma pirâmide invertida, na qual uma pequena poupança hoje representa um milhão amanhã. Todo mês que você poupa, adiciona um triângulo crescente ao seu patrimônio futuro. Significa uma pequena bola de gelo que se transformará em uma grande bola de neve patrimonial.

Você, leitor, se conseguir controlar a sua cigarra límbica, desfrutará dos prazeres da riqueza.

Se, por exemplo, na sua juventude impulsiva, você optasse por acumular mil reais por mês, depois de 30 anos você seria um milionário! Como você gostaria de ter pensado nisso antes, não é mesmo? Eu também…

O caminho para a independência financeira é o mesmo caminho da saúde. É o das trocas intertemporais, da valorização do amanhã, dos juros, da disciplina e do controle da impulsividade. Investir em renda fixa é investir em um ativo que seguirá subindo e rendendo juros sobre juros. Por fim, pacientemente, ela o tornará muito rico.

Além disso, como eu vivo falando por aqui, a renda fixa pode pagar também juros muito agressivos. Se você fizer a mesma simulação dos mil reais mensais mencionados acima, só que com um juro real mais alto, você acumula o mesmo milhão em apenas 20 anos.

Quer se aposentar mais cedo? Quer desfrutar dos prazeres da vida?

Então use o córtex pré-frontal e a RENDA FIXA!

Tópicos Relacionados

Compartilhar