O que o mercado acha?

Marilia Fontes 16/08/2021 13:20 3 min
O que o mercado acha?

Passei as duas últimas semanas gravando com 6 grandes gestores brasileiros sobre os princípios que eles utilizavam na gestão, para mostrar ao pessoal do Master Portfólio. Achei que seria um conteúdo muito rico e de ensinamentos distintos sobre como ganhar dinheiro.

O conteúdo de fato foi riquíssimo, mas conforme os últimos convidados foram chegando, fiquei muito surpresa em ver que os princípios de gestão não eram tão diferentes assim entre eles. Várias coisas que foram faladas eram universais entre todos esses gestores de sucesso.

Eu não vou listar todas as semelhanças aqui, mas tem uma muito legal, que já foi comentada neste espaço e vale a pena relembrá-la. Trata-se de buscar assimetrias olhando o que já está no preço de mercado.  

Por exemplo, imagine que você quer investir hoje em uma ação cujos controladores estão prometendo uma expansão agressiva do número de lojas. Caso essa expansão aconteça, a ação valerá 50 reais.

Isso, por si só, é motivo para você comprar a ação? Claro que não!

Se a ação hoje é precificada a 45 reais e nesse preço já estão incorporados 90 por cento da abertura de lojas prometida, então não faz sentido apostar nesse crescimento. Essa aposta é assimétrica contra você. Se a empresa entregar o crescimento, você ganha pouco, pois já está tudo praticamente precificado, e se a empresa falhar, a ação sofre muito.

Para nós sabermos se uma operação é positivamente assimétrica a nosso favor, temos que ter uma ideia do que já está precificado no mercado. Se muita coisa já estiver precificada, aí só faz sentido apostar se for contra.

Essa é um pouco a minha cabeça para renda fixa de curto prazo no Brasil.

Quando olhamos para o número de altas já precificadas para cada reunião do Copom nos próximos 2 anos, temos a seguinte realidade:

Altas já precificadas para cada reunião do Copom dos próximos dois anos.
Fonte: Bloomberg

Note que em menos de 2 anos a curva já precifica a Selic subindo até quase 10 por cento!

Ou seja, para você escolher comprar um pós-fixado ao invés de um prefixado, você tem que achar que a taxa Selic vai subir acima de 10 por cento nos próximos 2 anos.

O Banco Central diz que a Selic deve subir acima do neutro, que vamos estimar que deva estar em torno de 7 por cento. O Relatório Focus diz que a Selic sobre até 7,25 por cento. E o mercado está quase 10 por cento!

Se o BC acertar e a Selic subir pouco acima de 7 por cento, quem está no prefixado curto ganha um bom dinheiro. Se o Focus acertar, a mesma coisa. Por outro lado, se o mercado acertar e a Selic subir até 10 por cento, bem acima de todas as outras projeções, quem estiver no prefixado curto não perderá absolutamente nada.

Percebe que esse é o tipo de aposta assimétrica a seu favor? Se ganhar, ganha bastante, e se perder, perde pouco?

Para o juro curto subir acima de 10, temos que ver uma situação inflacionária bem fora do controle. Ou um fiscal com gastos desenfreados. Pode acontecer? Claro que pode. Isso aqui é Brasil. Mas seria um cenário de cauda, de menor probabilidade.

Eu gosto bastante desse tipo de operação para ocupar um espacinho no nosso coração e na nossa carteira de renda fixa.

Mas como mencionaram os gestores, nunca se esqueça de olhar juntamente com o que você acha que vai acontecer o que já está precificado pelo mercado.

É isso que vai lhe dizer se você tem uma assimetria a seu favor ou contra.

Invista sempre nas assimetrias positivas!

Um abraço e uma ótima semana.

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