Netflix: é hora de vender as ações e os BDRs?

Exterior opera misto após fala de Powell sobre juros para controlar inflação nos EUA

Nord Research 22/04/2022 12:49 12 min
Netflix: é hora de vender as ações e os BDRs?

Nord Insider

Nesta sexta-feira, 22, o pré-mercado de Nova York opera misto após comentário do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, de que uma alta de 0,5 ponto percentual está “sobre a mesa” para o próximo mês.

Na agenda econômica, destaque para os indicadores de atividade dos gerentes de compras, os PMIs, do setor de serviços e indústria, relativos a abril, nos Estados Unidos.

Principais assuntos de hoje:

  • Netflix (NFLX34): Resumo dos resultados do 1T22;
  • HP (HPQB34): vale a pena comprar?;
  • A história do “Ta-dam”;
  • Grandes fraudes financeiras.

Netflix (NFLX34): fundamentos não mudaram, mas curto prazo é desafiador

O bilionário Bill Ackman se desfez de sua participação na Netflix um dia após a surpresa negativa com o número de assinantes da empresa. A Netflix perdeu 200 mil assinantes no primeiro trimestre deste ano — a primeira baixa em uma década.

As ações da empresa caíram -35,12 por cento na quarta, para 226,19 dólares na Bolsa de Nova York, e voltaram a cair na quinta, -3,52 por cento, para 218,22 dólares. Ou seja, o mercado não gostou dos resultados.

Analisando os resultados

Para o analista internacional Cesar Crivelli, responsável pela cobertura do ativo na Nord Research, a Netflix reportou resultados fracos e abaixo da projeção mais conservadora do mercado.

A empresa registrou perda de -200 mil assinantes, enquanto o esperado, dado o guidance, era uma alta de +2,5 milhões de assinantes.

Lembrando que, desde a publicação do último resultado, muito aconteceu, como o início de uma guerra no Leste Europeu e a escalada brutal da inflação mundial.

Segundo a companhia, o resultado foi impactado pela saída da Rússia do serviço neste trimestre, que aumentou a baixa de -700 mil usuários pagantes. Ou seja, excluindo esse “efeito”, o saldo no 1T22 teria sido uma adição de +500 mil usuários, mesmo assim consideravelmente abaixo da meta da empresa para o trimestre.

No faturamento, apesar da perda de clientes, as receitas totalizaram 7,8 bilhões de dólares, aumento de +9,8 por cento A/A e +2,1 por cento T/T.

Do ponto de vista de custos e despesas, notamos que o resultado ficou dentro do esperado. A empresa contabilizou uma margem operacional de 25,1 por cento, um pouco inferior ao apurado no ano anterior, o que já era esperado dada a inflação atual.

É importante ressaltar que, no período, a Netflix apresentou uma geração de caixa operacional de 922 milhões de dólares e amortizou um total de 700 milhões de dólares em dívidas.

A alavancagem financeira atual da empresa é saudável, em 1,5x EBITDA 2021.

Balanço frustra expectativas

No entendimento do nosso analista, o que frustra mais uma vez os investidores é o guidance dado pela empresa para o próximo trimestre.

A Netflix espera uma perda de -2 milhões de assinantes no 2T22, visto que continuará a aumentar os preços em alguns mercados. O mercado estimava uma adição de +1,1 milhão de novos assinantes pagantes à base da empresa.

Macro desafiador

De fato, a perspectiva de perda de assinantes é um balde de água fria, mas o momento em que vivemos é bastante desafiador, principalmente no que diz respeito à inflação e à renda real dos consumidores.

Um cenário em que a maioria das empresas mostra dificuldade de crescimento, muito provavelmente por conta de fatores macroeconômicos, seria menos ruim à tese de investimento; do contrário — se todas as outras empresas que possuem serviços por assinatura forem bem na temporada de balanços nos EUA —, o problema pode ser inerente somente à Netflix, o conteúdo produzido e seu modelo de negócios, o que nos levaria a revisitar a recomendação.

Estratégia comercial

A próxima vertente de crescimento da companhia deve advir da região Ásia Pacifico, onde, justamente no 1T22, houve um acréscimo de +1 milhão de novos usuários, enquanto em todas as outras regiões houve queda.

Além disso, a empresa planeja, agora, um plano mais barato, porém com a inclusão de anúncios. Rivais como a HBO Max e a Hulu já trabalham assim e receberam aceitação do público.

Esse é mais um ajuste no modelo comercial, visto que o CEO da Netflix sempre foi vocal em se posicionar contra esse modelo de negócios, mas diante das dificuldades atuais, parece ter dado o braço a torcer, uma vez que existe demanda para um produto nesses moldes.

Cobrança por compartilhamento de conta

Recentemente, a companhia disse que quer acabar com o compartilhamento de senhas. Há (muito) dinheiro na mesa e a Netflix vai correr atrás dele.

Desde o trimestre passado, a companhia colocou em prática em países da América Latina um teste de cobrança extra para clientes que compartilham indevidamente suas senhas com amigos e parentes.

Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos e no Canadá, a Netflix estima que 30 por cento dos lares estão usando uma senha compartilhada para acessar seu conteúdo.

A estimativa oficial da empresa é de que cerca de 100 milhões de domicílios ao redor do mundo, de maneira ou outra, tenham acesso ao conteúdo oferecido pela empresa de forma indevida.

Segundo o CEO da companhia, ao longo dos próximos trimestres, a ideia é de expandir esse modelo de “cobrança extra” a esses usuários hoje não-pagantes e assim maximizar as receitas da empresa.

Considerações finais

O curto prazo é desafiador, mas o longo prazo deve ser recompensador. Entendemos as dores dos acionistas da companhia, dada a queda das ações nos últimos meses, principalmente após a divulgação dos números do 4T21.

Entretanto, o mercado tende a focar muito em questões de curto prazo, seja no lado positivo, seja no negativo. O sucesso de um investidor está justamente em saber ignorar esses ruídos e pensar a longo prazo.


A nova compra de Buffett vale a pena?

A Berkshire Hathaway Inc., do investidor Warren Buffett, comprou uma participação na HP Inc. (NYSE: HPQ) avaliada em mais de 4,2 bilhões de dólares.

A participação na HP é o terceiro grande investimento anunciado pela Berkshire Hathaway neste ano.

No início de março, a Berkshire Hathaway comprou uma participação de 14,6 por cento na petroleira americana Occidental Petroleum.

Depois disso, em 21 de março, o conglomerado de Warren Buffett desembolsou 11,6 bilhões de dólares pela Alleghany, reforçando seu portfólio de seguradoras.

O analista Henrique Vasconcellos, da carteira Anti-Trader, destaca que as ações da HP valorizaram nos últimos cinco anos, mas os resultados não engrenaram. Houve uma forte queda nos preços em 2012 e de lá pra cá os resultados da companhia têm caminhado um pouco de lado.

Mesmo olhando para as expectativas de 11 analistas do mercado (abaixo), os resultados não nos parecem muito animadores. O mercado espera um crescimento de -1 por cento em 2022 e deve enfrentar queda nos anos seguintes.

Projeções do mercado para HP. Fonte: Bloomberg

Apesar de os resultados não serem muito animadores, a empresa paga um yield relativamente alto para os padrões americanos e é extremamente barata para uma empresa de tecnologia.

Respondendo de forma objetiva, parece-nos que a aquisição do Oráculo de Omaha foi feita apenas porque é uma empresa bem barata, que negocia abaixo de 8x EBITDA, sendo uma empresa de tecnologia.

Entendemos que faz sentido para a estratégia da Berkshire, buscando comprar ativos muito baratos. Mas, a nosso ver, existem oportunidades melhores para investir no momento, tanto no mercado local quanto fora. Uma empresa que o nosso analista diz estar de olho para uma boa oportunidade de entrada é a Microsoft (NASDAQ: MSFT). Ao contrário da HP, a empresa negocia atualmente a múltiplos mais altos (por isso a espera), mas entrega excelentes resultados recorrentemente

Em complemento, recomendamos a leitura da matéria do Brazil Journal sobre a compra das ações da HP. Em um trecho da publicação, o jornal diz que “a companhia tem um guidance de crescimento de receita para os próximos três anos de “low single digits” (dígito único baixo, em português).


The Big Short

De locadora a gigante do streaming

Reed Hastings nasceu no dia 8 de outubro de 1960, na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Na década de 80, ele lecionou matemática no ensino médio na Suazilândia e, após voltar para os EUA, tornou-se mestre em inteligência artificial.

Em 1991, Hastings criou a Pure Software, mas sua falta de experiência em gestão fez com que ele abandonasse o cargo de CEO quatro anos após o lançamento da empresa.

Já seu amigo, Marc Randolph, nasceu em 29 de abril de 1958, no Estado de Nova York, e, após sair da faculdade, começou a trabalhar para a Cherry Lane Music, também em Nova York. Ele passou por diversas startups de Silicon Valley e se tornou especialista em publicidade e vendas.

Marc trabalhava na Integrity QA; a companhia foi comprada pela empresa de software Pure Atria, que tinha Reed como CEO. Foi assim que ambos se conheceram.

No final de 1996, a Pure Atria foi comprada pela Rational Software por meio da aquisição de 850 milhões de dólares em ações. Essa fusão foi operacionalizada durante quatro meses, período em que Reed e Marc criaram o esboço de uma ideia simples, porém revolucionária: alugar DVDs pelo correio.

Em 1998, a Amazon (AMZN) de Jeff Bezos ofereceu 12 milhões de dólares numa tentativa de comprar o negócio, mas sem sucesso.

Outra oportunidade surgiu em 2000. Dessa vez, Reed e Marc tentaram vender o negócio para sua maior concorrente, a Blockbuster, por uma bagatela de 50 milhões de dólares. A proposta foi recusada porque a empresa, outrora bem-sucedida, achou caro e não acreditava em negócios online.

Rejeitados, eles decidem focar em serviço de assinatura, oferecendo aos assinantes a possibilidade de alugar DVDs ilimitados sem data de devolução, multa por atraso ou limite mensal. Isso os fideliza sem ter que levá-los a uma locadora.

— O plot twist desse enredo veio em 2020, quando a Blockbuster foi extinta.

Em 2002, Marc Randolph decide sair do quadro da empresa e deixar as operações a cargo de Hastings. No mesmo ano, a Netflix fez sua oferta pública de ações (IPO) com valor de venda de 1 dólar por ação na NASDAQ, com o código NFLX, e o resto você já sabe.


Relevante agora

IRB é a nova Enron?

A Enron, uma companhia de energia fundada em 1985 após a fusão da Houston Natural Gas com a InterNorth, parecia ser uma das melhores e mais inovadoras companhias dos Estados Unidos na década de 1990.

Com atuação em exploração de gás, produção de energia e até atuações de seguros climáticos, a Enron chegou a se tornar a 7ª maior companhia norte-americana.

Crescimento acelerado, financeiramente estável e receitas de bilhões de dólares. O deleite de todo acionista. O que ninguém esperava era que, em doze meses, a ação cairia para praticamente zero e a fraude viria à tona.

O Caso Enron

Em 1980, a companhia perdeu a exclusividade dos negócios e apresentava baixos resultados, aliados à uma enorme dívida feita para a fusão acontecer, com um pano de fundo de alguns escândalos com a gestão que também apareciam na mídia.

Para acalmar os nervos, um novo CEO entra em cena: Jeffrey Skilling, ex McKinsey, com muito conhecimento da contabilidade e que usou isso a seu favor.

A empresa utilizou uma tática chamada de “mark to market”, em que basicamente os ativos da companhia eram corrigidos ao valor “justo”, e também Enron poderia reconhecer suas receitas antes mesmo de serem realizadas.

Na época, Skilling também criou o “Banco do Gás” para intermediar negociações de produtores e consumidores de gás, já que a commodity estava muito volátil e a Enron poderia se beneficiar da intermediação.

As duas estratégias deram muito certo, e Skilling não queria parar por aí. Na mesma época, a bolha da internet alcançava seu auge e foi criado o “EnronOnline”, um site que permitia a negociação de derivativos de diversas commodities, em que a empresa sempre estava envolvida nas operações, sendo compradora ou vendedora dos contratos.

Mais linhas de negócios totalmente fora do escopo trazendo resultados extraordinários à Enron.

Manipulação de resultados contábeis

Essa série de investimentos feitos ao longo da década de 1990 servia exclusivamente para inchar resultados. Na prática, não geravam nenhum retorno para a empresa, além de criarem dívidas gigantescas.

Em 2001, a festa começou a acabar quando o mercado americano desacelerou fortemente e os movimentos da Enron começaram a ser analisados com mais cuidado pelas autoridades locais.

Apesar de algumas tentativas de ocultar dívidas e ativos ruins da companhia, as fraudes da Enron foram, enfim, descobertas.

Enron declarou falência e todos os principais executivos envolvidos foram presos por fraude e conspiração. O prejuízo de 74 bilhões de dólares ficou para seus acionistas e a empresa focou em pagar seus credores.

A repercussão foi tamanha que o governo americano buscou uma maneira de tornar os demonstrativos financeiros mais transparentes e confiáveis para investidores e criou, em 2002, o Sarbanes-Oxley Act, uma lei que busca trazer mais segurança e confiabilidade das operações e atividades das companhias.

O caso IRB

A analista Danielle Lopes, da carteira Nord Ações, reviveu o escândalo da Enron para levantar aspectos importantes sobre governança corporativa.

E o filme se repete, vinte anos depois, com o IRB (IRBR3). A empresa, fundada em 1939, atingiu os níveis de maior companhia do setor de resseguros do país e foi uma das ações mais valorizadas em 2019, com forte crescimento de resultados.

Mas o crescimento era muito acima dos pares, o que chamou a atenção de uma gestora em 2020, confirmando os números duvidosos de IRB, bem como a falsa tentativa de mencionar que Warren Buffett estava comprado na companhia (nunca esteve e nunca estará, segundo a fala do próprio bom velhinho).

Falsa história

A trama segue em uma segunda etapa com o ex-CFO do IRB, Fernando Passos, sendo processado pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos Estados Unidos pela falsa propagação da história de Buffett, na tentativa sustentar o preço das ações da companhia, e divulgação de falsas informações a investidores e analistas.

Nossa analista diz que a governança é um dos pilares mais importantes para uma empresa longeva e um dos mais difíceis de tangibilizar. Por isso, acompanhamos os fatos para nos certificar de que as histórias nos deixam mensagens que não podem ser ignoradas.

Busque cuidar do seu patrimônio e não tente acertar a “virada” de empresas como o IRB. Tenha em mente que é mais seguro investir em ações de boas empresas, com resultados crescentes, que te trarão ganhos no longo prazo e uma tranquilidade maior. E, preferencialmente, fique longe de IRB e proteja seu patrimônio.


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