Nada como a boa e velha inflação

Cesar Crivelli 17/07/2021 13:00 4 min
Nada como a boa e velha inflação

De volta a 1991

O grande barulho da semana, nos Estados Unidos, esteve relacionado à taxa de inflação, que foi divulgada na segunda-feira.

No mês de junho, o indicador subiu – pasmem – nada menos do que +0,9 por cento, marcando o maior aumento mensal desde junho de 2008. Uma inflação digna do Brasil, diga-se de passagem.

A inflação ao consumidor, no acumulado nos últimos doze meses, chega a +5,4 por cento – também a maior leitura desde agosto/2008.

Fonte: Deutsche Bank

Mas se você conversar com algum economista, ele(a) vai dizer que na verdade o que faz mais sentido é olhar para o núcleo da inflação, que nada mais é do que o mesmo indicador, mas desconsiderando os efeitos de alguns itens voláteis, como energia e alguns alimentos.

Mesmo assim, a danada da inflação fez história. O aumento de preços em doze meses do núcleo da inflação marcou +4,5 por cento, a maior leitura desde novembro de 1991!

Arnold Schwarzenegger com a legenda: "I'm back".

Mas calma, precisamos mesmo é olhar nas entrelinhas para entender o que está acontecendo em terras gringas e levando a inflação a patamares tão exuberantes.

Os principais contribuintes para a alta da inflação nos Estados Unidos nos últimos meses têm sido o mercado de carros usados (em verde no gráfico abaixo), o custo com aluguel e preço dos imóveis no geral.

Gráfico mostra que os principais contribuintes para a alta da inflação nos Estados Unidos nos últimos meses têm sido o mercado de carros usados (em verde no gráfico abaixo), o custo com aluguel e preço dos imóveis no geral.
Fonte: Zero Hedge

A maior surpresa para o mercado tem sido o aumento no preço dos carros usados. Apenas no mês passado, em relação ao mês anterior, a alta foi de +10 por cento, sendo que nos períodos anteriores a variação tinha sido bem expressiva também.

Esse outro gráfico é um pouco assustador. Ele mostra a alta no preço de veículos usados desde 1995. Notem como nos últimos meses ficou bem caro comprar um carro nos Estados Unidos!

Gráfico mostra a alta no preço de veículos usados desde 1995.
Fonte: Manheim

Mas por que isso está acontecendo? Bom, lá atrás, no início da crise, muitas locadoras de carros se desfizeram de parte de seus estoques rapidamente – a um preço não muito convidativo – para fazer frente à crise e à baixa ocupação da frota. Agora, essas mesmas locadoras estão de volta ao mercado de carros novos, que também passa por uma peculiaridade, que é a falta de chips eletrônicos, o que levou várias montadoras a suspenderem a fabricação de automóveis nos últimos meses, ou seja, a oferta de carros está bem baixa nos Estados Unidos.

Diante da reabertura econômica, retomada do emprego e também por conta da migração dos centros urbanos para as regiões de subúrbio – o home office fez com que muitas pessoas procurassem casas maiores, em busca de uma qualidade de vida e trabalho melhores – os carros, agora, mais do que nunca, são necessários, o que leva a esse superaquecimento do mercado de usados.

A situação não é muito diferente no mercado de casas. O gráfico abaixo, que fez parte de um relatório do Nord Fundos recentemente, mostra como está o preço das casas nos Estados Unidos em relação à inflação acumulada no mesmo período.

Gráfico apresenta exageros do FED no mercado – preços das casas nos Estados Unidos versus inflação.
Fonte: Nord Fundos

Notem o quanto os imóveis subiram de preço nos últimos meses, contribuindo para a alta da inflação de uma maneira geral.

E ainda temos a reabertura econômica por vir…

A tabela abaixo ressalta em verde os segmentos que mais contribuíram para o aumento de preços nos últimos meses, comparando a variação ano contra ano dos segmentos.

Fonte: Bank of America

Tivemos uma aceleração nos preços de um segmento da economia que até então estava “esquecido”: o turismo.

A alta das diárias de hotéis (lodging away from home) e passagens aéreas (airline fares) também aceleraram nos últimos meses, visto que apenas agora, com a vacinação indo muito bem no país, as pessoas estão voltando a circular e viajar a lazer e a trabalho, então possivelmente há mais por vir aqui.

Além disso, temos um consumo reprimido para itens de varejo, cirurgias que foram canceladas e muitas outras coisas que serão retomadas plenamente apenas nos próximos meses.

A impressão que fica é de que a inflação pode até ser transitória, como o Banco Central dos Estados Unidos afirma, mas ela ainda pode estar longe de retornar aos patamares históricos de 2,0 por cento ao ano.

E as implicações disso para seus investimentos? Bom, esse será o tema na nossa próxima newsletter.

Até semana que vem!

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