Hora de investir em varejo?

Vale a pena comprar Via ou Magalu agora?

Rafael Ragazi 27/03/2022 12:00 6 min
Hora de investir em varejo?

Olá, investidores.

Aqui é o Rafael Ragazi, analista CNPI e responsável pela carteira Nord 10X.

Eu e o André Zonaro, também analista CNPI e responsável pela carteira Small Caps, viemos falar sobre duas varejistas que estão passando por momentos terríveis na bolsa brasileira.

Com quedas de cerca de -80 por cento de seus picos recentes, essas empresas estão nas mentes de muitos investidores.

Estamos falando do Magazine Luiza (MGLU3), que já foi sinônimo de ação de sucesso na Bolsa brasileira — todo mundo queria encontrar o "Novo Magalu" —, e da antiga Via Varejo (VVAR3), hoje só Via, que já teve períodos em que suas ações se multiplicaram por mais de 5x em curtos períodos de tempo.

De empresas que subiam sem parar, Magalu e Via acabaram virando algumas das piores ações dos últimos meses. Isso vai se reverter? VIIA3 e MGLU3 podem voltar a dar alegria aos investidores?

VIA a 3 reais, é hora de comprar?


As ações da Via Varejo estão negociando a 3 reais, valor abaixo do que foi visto no auge da pandemia e abaixo do que foi visto em 2019. Mas será que isso significa que é hora de comprar ações da Via?

O Zonaro menciona que, em 2019, a 3 reais, a empresa estava negociando a 3x EBITDA, patamar extremamente baixo. Mesmo sendo uma tese de turnaround, o desconto parecia injustificado e valia a pena o risco.


O que muita gente não entendeu, no entanto, é que apesar de o preço de tela hoje ser o mesmo de 2019, o cenário macroeconômico e principalmente os resultados da companhia são muito distintos.

Hoje, a 3 reais, a companhia negocia a 8,6x EBITDA 2022. Além das quedas nos resultados, no 3T21 a companhia anunciou uma provisão trabalhista de 1,2 bilhão de reais a ser desembolsada ao longo dos próximos anos.

Então não vale a pena? No fim, é tudo uma questão de preço ou de resultados. Nas condições atuais (preço e perspectivas de resultado), Via ainda embute alguns riscos relevantes, e o preço – 8,6x EBITDA – já não é mais tão convidativo. A companhia teria que apresentar resultados expressivos à frente para justificar uma nova entrada, porém o futuro não parece ser tão animador, tanto do ponto de vista interno quanto externo.

Internamente, a companhia ainda precisa encontrar o caminho para crescer no varejo físico e resolver as diversas questões trabalhistas e tributárias. Externamente, o macro ainda deve pesar por algum tempo.

Os juros mais altos no país devem frear o consumo. Será preciso muita diligência na compra e venda de produtos, pois o varejo é um mercado de margens apertadas e extremamente competitivo; sem uma vantagem clara, será difícil crescer em cima dos concorrentes.

MGLU3 em queda livre

Eu, Ragazi, acompanho Magalu de perto aqui na Nord. Inclusive, já publicamos dois relatórios gratuitos sobre a empresa em fevereiro (aqui) e dezembro (aqui) do ano passado.

A varejista acabou de divulgar seus resultados do 4T21 e conseguiu frustrar as expectativas (já pessimistas) do mercado; no pregão seguinte ao da divulgação, as ações do Magalu (MGLU3) afundaram -9 por cento.

Desde que suas ações alcançaram a máxima, em novembro de 2020, a queda acumulada já é de impressionantes -82 por cento.

Após ser massacrada na Bolsa, chegou a hora de comprar Magalu?

Apesar de ter praticado uma política mais agressiva na precificação das mercadorias (para reduzir os níveis de estoques, que foram aumentados no 1S21 em função de uma frustrada expectativa de retomada econômica), o Magalu não conseguiu entregar um bom crescimento de vendas no último trimestre de 2021.

As vendas totais (GMV) cresceram apenas 4 por cento na comparação anual, em função da queda de -18 por cento nas vendas das lojas físicas (que são muito dependentes da categoria de bens duráveis) e do baixo crescimento das vendas de seu e-commerce próprio (1P), no qual as vendas cresceram apenas +1 por cento. Somente as vendas no marketplace (3P) do Magalu apresentaram um crescimento mais forte, de +60 por cento.

Inclusive, a companhia informou que em fevereiro de 2022, pela primeira vez, as vendas do marketplace superaram o faturamento das lojas físicas em um mês.

Contudo, apesar de todas as dificuldades impostas pelo cenário atual, nada mudou em sua estratégia de longo prazo, e a companhia afirmou que a execução desta segue sendo muito bem realizada.

Mas se a empresa tem uma excelente estratégia e comprovada capacidade (financeira e operacional) de execução, por que suas ações não param de cair? Você deve estar se perguntando.

A resposta para esse questionamento envolve tanto fatores externos quanto internos.


Com o combo situação fiscal frágil + efeitos da Covid-19 na economia + incertezas relacionadas às eleições, a expectativa para a inflação, e consequentemente para os juros brasileiros, já não era positiva. Agora, com a guerra declarada pela Rússia contra a Ucrânia, a situação fica ainda mais complicada.

Nesse cenário, o mercado tem amassado as ações de crescimento na bolsa, grupo do qual o Magalu faz parte. Mas não foram apenas fatores externos que fizeram as ações da empresa caírem mais de 82 por cento.

Aspectos intrínsecos ao seu negócio, como o elevado nível de competição no varejo generalista brasileiro, principalmente no online, com a entrada das companhias asiáticas no mercado, e também o erro pontual na gestão de estoques – que está obrigando a empresa a realizar relevantes liquidações –, elevam os gastos com marketing e pressionam a receita da empresa. Além disso, o maior volume de vendas no online também aumenta as despesas com logística.

Com tudo isso impactando negativamente seus negócios, o Magalu viu suas receitas caírem -7 por cento, seu Ebitda cair -53,5 por cento e reportou um prejuízo de -79 milhões de reais no 4T21 (vs. um lucro de 232 milhões de reais no 4T20).

Vale a pena investir nas ações do MGLU3?

O Magalu está valendo cerca de 43 bilhões de reais na Bolsa atualmente, o que representa 382x seu lucro ajustado. Isso pode parecer muito, mas é preciso levar em consideração que a margem de lucro da empresa está extremamente comprimida; em 2021, a margem líquida foi de apenas 0,32 por cento. Como referência, em 2019, antes de o cenário começar a virar, a companhia entregou uma rentabilidade líquida de 2,54 por cento.

Com a receita atual e a margem de 2019, o lucro da companhia já seria de cerca de 900 milhões de reais. Com a rentabilidade normalizada e multiplicando sua receita por 3,3x, o Magalu seria capaz de entregar os 2,9 bilhões de reais de lucro que a fariam negociar com um múltiplo de Preço/Lucro de 15x (média histórica da nossa bolsa).

Ainda assim, continuo acreditando que faz mais sentido esperar por sinalizações concretas de mudança desse cenário antes de montar uma posição na empresa, mesmo que às custas de abrir mão de parte do movimento inicial de alta quando o humor do mercado em relação ao Magalu mudar.

Diante de tudo o que foi dito neste texto, o que o investidor pode fazer dentro do segmento de varejo? Será que existem oportunidades?

A resposta curta é sim. O ambiente macro é desafiador, porém nem todas as empresas do varejo são afetadas da mesma forma pelo cenário. Acesse o conteúdo completo.

Zonaro e Ragazi, em suas respectivas séries, também abrem quais são as apostas nesse setor para 2022.

Por aqui, fica o nosso alerta para não colocar dinheiro nessas empresas, por enquanto, até termos uma visibilidade melhor sobre as perspectivas de resultados.

Um abraço,

Rafael Ragazi

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