Game of Thrones da vida real: a briga dos Klein

Bolsas internacionais sobem no último pregão do mês

Nord Research 29/07/2022 14:19 8 min
Game of Thrones da vida real: a briga dos Klein

Nord Insider


Nesta sexta-feira, 29, os mercados em Nova York operam em alta impulsionados por fortes resultados corporativos das principais empresas de tecnologia americanas. Os investidores aguardam dados econômicos importantes da zona do euro e dos EUA.

Na agenda econômica, destaque para a taxa de desemprego (PNAD Contínua). Nos Estados Unidos, sai o Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de junho e a contagem de sondas de petróleo referente à semana terminada em 22 de julho.

Principais assuntos de hoje

  • Via (VIIA3): a rixa que se tornou pública
  • Uma disputa pela gestão do FII BCRI11; entenda o caso

Game of Thrones da vida real: a briga dos Klein e o que impacta as ações de Via (VIIA3)

Game of Thrones é uma das séries mais populares de todos os tempos — inclusive é muito pouco provável que você nunca tenha ouvido falar ou até mesmo assistido. Caso o improvável tenha ocorrido aqui, nos permita apresentar os Lannisters, uma das famílias que mais dividiram opiniões do público.

Na série, os Lannisters são uma das famílias mais ricas de Westeros, uma terra reminiscente da Europa Medieval, mas mesmo com tanto poder, a família não entra no leque das mais tradicionais. Os herdeiros não conviviam em comum acordo, fazendo com que brigas e traições fossem constantes.

Assim como na produção da HBO, a desavença entre os Klein se tornou pública. Nas últimas duas semanas, o maior acionista da Via (VIIA3), detentor de 10 por cento das ações do grupo, Michael Klein, colocou em evidência uma briga familiar com seu filho Raphael, que preside o Conselho de Administração da empresa.

Entenda o conflito

Segundo apurou o E-Investidor, do Estadão, a desavença está relacionada ao descontentamento de Michael com a remuneração dos executivos da companhia, que saltou dos 77,83 milhões de reais em 2021 para os atuais 105 milhões de reais.

A Via Varejo se manifestou com o portal de investimentos do Estadão por meio da seguinte nota.

“Em relação à manifestação de um de nossos acionistas, Michael Klein, dono de 10 por cento das ações da empresa, a Companhia reforça que se posicionou publicamente respondendo de forma técnica, com dados e números comprovados, cada uma das suposições levantadas no documento. Todas as alegações foram contestadas de forma transparente, ressaltando-se ainda que as deliberações questionadas foram aprovadas em assembleias de acionistas.” Acesse o comunicado na íntegra.

Ainda segundo o Estadão, pai e filho não se falam há dois anos, e a relação teria se deteriorado após o segundo casamento de Michael com sua atual esposa, Maria Alice, mãe dos quatro filhos mais novos do filho do fundador das Casas Bahia (tiveram, por duas vezes, gêmeos) e 19 anos mais jovem. Mas o relacionamento entre os dois azedou de vez, disse uma fonte próxima à família, depois que Raphael substituiu o pai na presidência do conselho da Via, logo no início da pandemia.

Paralelamente à briga familiar, outra razão para o relacionamento entre Michael e Raphael ter se deteriorado tem como pano de fundo o afastamento do patriarca do dia a dia da Via, que também gerou incômodo. "Michael Klein tem estado frustrado por não ter conseguido influenciar o dia a dia da empresa", diz uma pessoa próxima à situação. Como foi Michael quem escolheu Roberto Fulcherberguer, o atual CEO, ele esperava mais "gratidão", e não ser deixado de lado.

O que impacta os preços de Via?

Para André Zonaro, analista da Nord Research, a desavença familiar ainda não se tornou um fator prejudicial para a empresa, que passa por um momento turbulento, reflexo de um cenário macro mais desafiador. Na ponta financeira, o endividamento de 4,6 bilhões de reais da Via é um ponto de atenção e se deve à captação de recursos para investimentos internos e contas a pagar.

Apesar de contar com bilhões de reais de caixa — o que seria suficiente para quitar a dívida —, aproximadamente 3,2 bilhões de reais a receber são de cartões (compras que estão para entrar, mas que ainda não geraram caixa efetivo). Apesar do baixo risco, é um ponto a ser levado em consideração, comenta o nosso analista.

Neste ano, as ações de varejo na bolsa de valores apresentam fortes baixas. Num cenário em que aumentam as incertezas políticas e fiscais, inflação e juros elevados, não há expectativa de alívio em curto prazo. A nosso ver, isso tem levado os investidores a serem mais cautelosos com os investimentos que estão mais expostos à economia.

Outro ponto negativo, em meio à queda do setor, é o fato de que as vendas on-line voltaram a cair no país pelo terceiro mês consecutivo. O segmento encerrou o segundo trimestre de 2022 (2T22) com um recuo de -4,2 por cento frente ao ano anterior — em junho, a queda foi de 5,7 por cento, após duas retrações em abril (-6,4 por cento) e em maio (-1 por cento), segundo dados mensais da empresa de pesquisas MCC/Neotrust, apresentados na segunda, 25, em relatório da equipe de análise do Goldman Sachs.

Em nossa opinião, caso esse movimento (retração de vendas online) continue na segunda metade do ano, os resultados das varejistas podem ser ainda maiores, isso porque o segundo semestre é sazonalmente mais forte devido a eventos festivos, como Dia dos Pais, Natal e Black Friday. Apesar disso, houve uma melhora na percepção da empresa em virtude da redução de custos e despesas, o que pode ser positivo em um momento de falta de aumento nas vendas.

Desempenho das varejistas

As ações do Magazine Luiza (MGLU3) avançam +16,24 por cento em julho. Já no acumulado de 2022, registram desvalorização de -62,33 por cento.

Também no setor de varejo, as ações da Via (VIIA3) sobem +30,73 por cento em julho. Já no acumulado do ano, registram desvalorização de -52,19 por cento.

Na terceira posição, as ações da Americanas (AMER3) apresentaram alta de +12,36 por cento em julho. Já no acumulado de 2022, registram queda de -51,14 por cento.

VIIA3: comprar ou vender?

Para o nosso analista, a bolsa brasileira continua barata. O setor de consumo negocia a 14,4x lucros, bem abaixo da sua média histórica de 22,4x. Entretanto, essa diferença está muito mais relacionada a “descontos por risco” do que oportunidades de precificação.

Assim, o momento de incertezas, inflação alta e uma eventual recessão norte-americana acende um sinal de alerta na hora de investir em Via (antiga Via Varejo).

Com diversas outras opções tão baratas quanto, porém com maiores perspectivas de surfarem melhor o cenário atual, nossa recomendação no momento é para ficar de fora de Via.


O imbróglio do FII BCRI11 — e as controvérsias da CVM

No início de junho, os cotistas detentores de 6,69 por cento das cotas do FII Banestes Recebíveis Imobiliários (BCRI11) solicitaram a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para migrar a gestão do fundo: queriam trocar o Banestes pela Suno.

O grupo pediu que sua identidade fosse mantida em sigilo, o que o Banestes contestou na CVM.

As discussões sobre o sigilo dos cotistas geraram polêmica em fóruns e nas redes sociais, o que fez com que a CVM entrasse no assunto.

Na última sexta-feira, 22, a Procuradoria Federal Especializada da CVM determinou a identificação dos cotistas do FII.

O especialista em fundos imobiliários da Nord Research, Marx Gonçalves, vê com bons olhos a decisão do colegiado da CVM. Para ele, a identificação de cotistas que convocaram uma assembleia para deliberar sobre uma possível mudança de gestão acaba sendo importante para a isonomia dos demais cotistas. Afinal, somente assim seria possível avaliar se os solicitantes possuem algum vínculo com a outra gestora – no caso, a Suno –, o que poderia suscitar em potencial conflito de interesses no pedido.

Será que tem caroço nesse angu?

Depois da manifestação da área técnica da CVM, obrigando a revelação dos nomes, os cotistas comunicaram a desistência da assembleia para não abrir dados.

A princípio, os cotistas podem ter desistido da convocação da assembleia pelo desconforto em expor o patrimônio que detém, como se o movimento fosse uma quebra de sigilo bancário. Porém, a própria Procuradoria Federal Especializada da CVM esclareceu que a exigência não fere a Lei que protege o sigilo bancário.

Desafios regulatórios em relação ao sigilo

O imbróglio acabou causando controvérsia no mercado, pois há casos em que os cotistas solicitantes revelam suas identidades, enquanto em outros tantos o sigilo é mantido, o que indica uma regulação dúbia, na visão do nosso analista.

Fica aberta a questão se a decisão da CVM estabeleceu um novo precedente para episódios como este, sendo mandatória a partir de agora a identificação dos cotistas solicitantes. Ao que tudo indica será esse o caminho, que é muito positivo para o mercado de FIIs por elevar o seu nível de transparência.

Vale ressaltar que essa medida já é, de certa forma, aplicada no mercado de ações, em que acionistas detentores de 5 por cento do capital das empresas são obrigados a se identificar perante o mercado.

Por que trocar o Banestes pela Suno?


Ao analisar o fundo, não identificamos atualmente nenhum problema com a forma com que a Banestes vem gerindo o FII BCRI11, que inclusive acumula um retorno total muito superior ao do IFIX e do CDI Bruto acumulado desde que chegou ao mercado, em 2015.

Pela legislação, é possível que cotistas, individualmente ou em conjunto, que detenham ao menos 5 por cento das cotas do fundo possam convocar uma AGE para deliberar sobre as questões que julgarem pertinentes, bem como é direito de todos os cotistas se posicionarem da forma como julgarem pertinente na AGE, que exige quórum qualificado para a aprovação de uma matéria como esta.

Gráfico, Histograma  Descrição gerada automaticamente
Desempenho do FII BCRI11 desde a sua estreia. Fonte: Bloomberg

No momento, o FII BCRI11 não faz parte do portfólio da carteira recomendada Nord FIIs.

A série tem como responsável a analista e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, e é comandada junto ao especialista de FIIs, Marx Gonçalves. Saiba mais.

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