Fluxo de caixa livre – você sabe que bicho é esse?

Saiba o que é e para que serve a principal medida do poder de geração de caixa de uma companhia.

Rafael Ragazi 04/06/2021 12:55 5 min
Fluxo de caixa livre – você sabe que bicho é esse?

O que é

O lucro é o indicador financeiro mais popular no mundo dos investimentos, afinal, todos querem investir em companhias com lucros gordos e crescentes ao longo dos anos.

Contudo, é com sua capacidade de geração de caixa (e não com seu lucro) que uma companhia pode pagar dividendos, recomprar ações, pagar suas dívidas, financiar aquisições ou novas oportunidades de crescimento.

O fato é que o número reportado como lucro líquido tem um propósito puramente contábil, alguns gastos não têm efeito caixa e estão incluídos em seu cálculo, assim como certos gastos que afetam o caixa da companhia acabam ficando de fora.

O fluxo de caixa livre é uma medida que adiciona ao lucro alguns desses gastos não caixa e deduz outros gastos que têm efeito caixa, com o objetivo de medir de maneira mais acurada quanto dinheiro a companhia está gerando (ou consumindo).

A depreciação e a amortização são alguns dos principais exemplos de gastos sem efeito caixa. A depreciação existe para alocar o custo de ativos fixos como imóveis, veículos ou equipamentos ao longo de suas vidas úteis.

Não faria muito sentido reconhecer um gasto de 1 milhão com a compra de um novo equipamento se ele tem a expectativa de ser utilizado por 10 anos. O reconhecimento de um gasto de 100 mil por ano reflete melhor a realidade econômica da transação. Então, mesmo que 1 milhão tenha saído do caixa da companhia no primeiro ano, o que vai transitar pelo lucro nesse mesmo ano é um gasto com depreciação de 100 mil.

A amortização é um gasto sem efeito caixa similar à depreciação, mas o seu objetivo é representar o consumo de ativos intangíveis – aqueles com uma vida útil superior a um ano, porém não são ativos físicos, por exemplo, uma patente ou a licença de utilização de um software.

O goodwill também é uma forma comum de ativo intangível, ele surge como resultado da compra de um negócio por um preço superior ao seu patrimônio líquido contábil. Esse custo em excesso é reconhecido no balanço da adquirente como goodwill e é amortizado por períodos que podem chegar a décadas.

Na maioria dos casos, enquanto o poder de geração de lucros do negócio adquirido não cair ao longo do tempo, a amortização deduzida dos lucros da companhia é meramente uma medida contábil.

Além da depreciação e da amortização, gastos como um maior investimento em estoques ou a concessão de um prazo de pagamento maior para os clientes também podem afetar a geração de caixa da companhia e precisam ser deduzidos (ou adicionados de volta, caso estejam reduzindo).

Por fim, antes de chegar ao fluxo de caixa livre para a companhia, também precisam ser subtraídos os investimentos em ativos fixos da empresa; esses gastos são popularmente denominados no mercado como Capex (Capital Expeditures).

Para que serve

Se, por vários anos, o fluxo de caixa livre é consistentemente maior que os lucros, pode ser razoável utilizar o primeiro (no lugar do lucro) para analisar o preço (múltiplo) de uma companhia.

No caso de fluxo de caixa livre consistente menor que o lucro (que não está relacionado a um grande plano de expansão que demanda muito Capex), também é recomendável utilizar a medida de caixa mais conservadora ao analisar o preço de uma empresa.

Existem diversas razões para que o fluxo de caixa livre possa divergir do lucro reportado. Em alguns casos, a depreciação pode não refletir adequadamente os gastos anuais para repor/atualizar as instalações/equipamentos da companhia em um cenário inflacionário ou quando a competição elevada demanda maiores investimentos.

Em outros casos, equipamentos podem durar muito mais que o estimado ou a evolução tecnológica pode estar barateando os gastos com a reposição de equipamentos, e a depreciação reconhecida em função dos custos históricos será um gasto muito alto em relação à realidade econômica da empresa.

Assim sendo, examinar as diferenças entre a depreciação anual e o Capex ao longo dos anos tende a favorecer a utilização da medida de fluxo de caixa livre no lugar do lucro.

No caso de companhias com grandes gastos com amortização (como empresas de tecnologia ou aquelas que estão crescendo de maneira inorgânica – via aquisições), o argumento a favor da utilização do fluxo de caixa livre como referência para avaliar o preço ou a geração de resultado é ainda mais forte.

Ainda, é importante ressaltar que se uma companhia está crescendo rapidamente, um elevado Capex (e, consequentemente, um fluxo de caixa livre pressionado) não é necessariamente uma notícia ruim.

Nesses casos, é importante analisar qual parcela do Capex é destinada à manutenção dos negócios existentes e qual financia o crescimento; algumas empresas, como as locadoras de veículos, até divulgam uma medida assim: o “fluxo de caixa antes do crescimento”.

Desse modo, um Capex maior que a depreciação não deve ser uma fonte de preocupação quando isso se reflete em uma acelerada taxa de crescimento (que você acredita que continuará sendo mantida).

Entendendo um pouco mais sobre o fluxo de caixa livre, é possível evitar cair em armadilhas ao analisar o preço ou a rentabilidade de uma companhia, utilizando seu lucro como principal referência.

Uma alternativa comumente utilizada pelos investidores e analistas é olhar para o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) como uma proxy para a geração de caixa da companhia.

Apesar de não ser um substituto perfeito, a facilidade na utilização do indicador, que é amplamente divulgado nos releases e apresentações das empresas, pode ajudá-lo a economizar um bom tempo.

No fim das contas, não é a precisão matemática que vai torná-lo um investidor melhor. Entender os conceitos e como/quando alguns indicadores podem não estar representando adequadamente a realidade é muito mais importante.

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