Entenda o grande debate da inflação no Brasil

Ainda com incerteza fiscal, Ibovespa tem quarta queda seguida

Nord Research 19/11/2021 13:15 7 min
Entenda o grande debate da inflação no Brasil




Em seu menor patamar desde 12 de novembro de 2020, o Ibovespa se aproxima da marca dos 100 mil pontos em meio às preocupações com os riscos fiscais, que vêm pressionando o mercado há algum tempo. Com isso, o índice encerrou o pregão de quinta-feira (18) em queda de -0,51 por cento, aos 102.426 pontos, pelo quarto dia consecutivo de perdas.


Lá fora, nos EUA, os investidores seguem atentos a uma correção das Bolsas em Wall Street diante de uma possível resposta de política monetária mais antecipada por parte do Federal Reserve (Fed) para tentar conter a escalada da inflação.

Inflação pode ser mais persistente em certas partes do mundo


Para piorar. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, na quinta-feira (18), que a inflação pode se tornar mais resistente em certas partes do mundo se as interrupções na cadeia de suprimentos continuarem ou se as expectativas de inflação ficarem desancoradas.

O cenário no país. “Os níveis contínuos de inflação alta nos Estados Unidos podem exigir uma resposta de política (monetária) mais antecipada, o que pode impor pressão sistêmica de baixa para a economia global e a norte-americana”, disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, em um briefing regular.

Por falar em inflação… No Brasil, a inflação avançou 1,25 por cento em outubro, a maior taxa para esse mês em 19 anos, pressionada pela alta dos combustíveis e dos alimentos, segundo o IBGE. O índice de preços ao consumidor acumula uma alta de 8,24 por cento no ano.

Entenda o grande debate da inflação no Brasil

A aceleração de preços é global. Mas por aqui destoa de outros países, alcançando taxas mais elevadas. E quais têm sido os motores da inflação no Brasil?

A analista de renda fixa e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, descreve o início de tudo como os choques no preço dos alimentos, em meados de junho, com o auxílio emergencial. O governo colocou dinheiro na mão de quem não tinha renda e o aumento do consumo de alimentos básicos levou a uma alta de preços nas gôndolas de supermercados. Em seguida, vieram os choques no preço dos combustíveis e gás derivados do aumento da taxa de câmbio no mercado interno e, depois, sofremos choques no preço da conta de energia elétrica por conta da falta de chuvas, fazendo o Brasil viver sua pior crise hídrica nos últimos 91 anos.

Esses choques acabaram contaminando os demais preços da economia e, para controlar esse cenário, o Banco Central tem usado como remédio a elevação da taxa básica de juros, a Selic.

Por que a inflação do Brasil é pior?

Por aqui, a alta acumulada dos preços em 12 meses ultrapassa a casa de dois dígitos, enquanto em países do G-20 esse número está em 4,5 por cento. Nos 38 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o número médio é ainda menor: 4,3 por cento.


O que é preciso fazer para controlar a inflação?


A Marilia avalia que o melhor remédio para controlar o cenário de inflação é entrar com a mesma estratégia usada em 2016.

Naquela época, tínhamos o mesmo cenário: inflação forte e atividade fraca. Com a entrada de Temer na reta final de 2016, o mercado viu um choque de credibilidade a partir de seu discurso.

Para tentar conter a aceleração dos gastos públicos, tivemos a criação do teto de gastos — medida que vem funcionando como uma espécie de “âncora” fiscal do país nos últimos anos e que ajuda a controlar o crescimento do endividamento público.

Em segundo lugar, tivemos a Reforma Trabalhista e de regulamentação do processo de terceirização, removendo algumas amarras dos empreendedores e estimulando novas contratações.

Além disso, o país conseguiu aprovar a segunda grande reforma estrutural, a Reforma da Previdência, que abriu espaço fiscal e de responsabilidade para mitigar o peso dos gastos com Previdência e servidores no Orçamento do governo.

Como resultado, quais foram os efeitos na economia? Essas ações sinalizaram uma maior responsabilidade com a situação fiscal do país, por meio do maior controle dos gastos públicos. Isso contribuiu para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, permitiu o ciclo de queda das taxas de juros. Dessa forma, a Bolsa de Valores brasileira também foi favorecida e voltou a subir.

Então, na leitura da nossa analista, é necessário um novo choque de credibilidade para ajudar a mudar o cenário atual de inflação elevada e atividade fraca que estamos presenciando.


Como investir em renda fixa durante a alta da Selic?


A Marilia considera que, com a perspectiva de Selic ainda mais alta, é importante olhar para os títulos pós-fixados, que passaram a render um pouco mais.

Por outro lado, o ciclo de alta mais forte da Selic tem reduzido ainda mais as expectativas para a nossa atividade econômica. Inclusive, diversos economistas e instituições financeiras já preveem estabilidade ou recessão econômica para 2022.

Por fim, nossa analista alerta: é preciso ter cuidado para conseguir bons rendimentos. No curto prazo, é necessário liquidez e segurança.

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Este conteúdo foi publicado originalmente na área de assinantes do Renda Fixa PRO, e representa uma parte da mentoria exclusiva realizada em 18 de novembro de 2021.

Relevante agora

CIEL3, GETT11 e STNE: o que está acontecendo com os meios de pagamento?

Após a recente cisão com o Santander (SANB11), a Getnet (GETT11) se juntou, em outubro deste ano, às concorrentes de capital aberto: Cielo (CIEL3), listada na B3, e Stone (STNE), na Nasdaq, para ser a nova opção de investimento em meio de pagamentos.

Chocha, capenga, manca…

Nos 12 meses até 18 de novembro, as units da Getnet, que encerraram o primeiro dia de pregão a 7,72 reais, agora acumulam perdas de -50,90 por cento, sendo negociadas abaixo de 4,00 reais.

As ações da Stone, a rival verdinha, recuam -71,69 por cento no ano, a 19,23 reais, e os papéis da Cielo acumulam perdas de -39,69 por cento, a 2,17 reais.


Na visão do nosso analista de ações Fabiano Vaz, após o fim do duopólio das maquininhas de cartão – antes dominado por Cielo e Rede –, o equipamento em si virou commodity. Com o aumento da concorrência no setor, cresceram também as opções de planos e terminais.

O Fabiano destaca que, mesmo as adquirentes buscando se diferenciar no mercado por meio de taxas personalizadas para cada tipo de negócio e o melhor atendimento, no final das contas, o preço para atender às necessidades da empresa acaba pesando na decisão de escolha do consumidor.

A Getnet, por exemplo, entrega o mesmo produto e serviço por um preço bem parecido ao praticado por seus pares. Não oferecem uma vantagem competitiva forte.

Pode copiar, só não faz igual. A Stone até teve um diferencial no começo porque, além da maquininha, entregava também outros benefícios, como uma plataforma de gestão para PMEs, mas depois as concorrentes copiaram e desenvolveram a mesma solução para seus clientes.

O cenário é desafiador...

O crescimento de receitas das empresas adquirentes depende de uma atividade econômica mais aquecida. E, no Brasil, o que estamos vendo é uma recuperação da atividade mais lenta. Além disso, o lançamento do Pix, novo meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, pode ameaçar o modelo de negócios das empresas de maquininhas de pagamento.


Por que te contamos tudo isso?


Boa pergunta. Hoje, grandes varejistas como o Mercado Livre e startups de tecnologia oferecem maquininhas próprias. Para se ter ideia, a Cielo, líder histórica de mercado, vale atualmente bem menos do que as “novatas” Stone e PagSeguro. Diante desse cenário, vale a pena entrar ou não?

O nosso analista avalia que essas empresas adquirentes têm dificuldades em gerar novas receitas. A Stone foi oferecer crédito a seus clientes e está tendo problemas sérios com os recebíveis em seu balanço. A Cielo também se lançou nessa linha de recebíveis, mas ainda não conseguiu acelerar essa frente de nova receita.

Considerando o cenário ruim atual ou pelo negócio em si, as perspectivas não são boas para Cielo, Stone e Getnet. Para Fabiano, o momento é para ficar fora dos papéis dessas empresas.


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