Dia triste para o brasileiro. Vou comprar Bolsa!

Para ser um bom investidor, é preciso ser pragmático. Hoje eu acordei triste com o Brasil — mas com vontade de comprar bolsa, e não vender.

Marilia Fontes 30/08/2021 12:14 4 min Atualizado em: 14/09/2023 12:10
Dia triste para o brasileiro. Vou comprar Bolsa!

Hoje é daqueles dias que dá uma tristeza grande de ser brasileiro. O assalto violento nessa madrugada em Araçatuba, com muitas pessoas feitas de reféns, já começa a nos revoltar e lembrar da insegurança que é viver em nosso país.

Passando pelos jornais, já vemos logo notícias da crise hídrica, dos baixíssimos níveis dos reservatórios e das soluções que estão sendo propostas para a resolução dos problemas. Embora um racionamento fosse a forma mais eficaz de reduzir o consumo de água, ele é extremamente impopular e não cairia bem para um ano pré-eleitoral.

Assim, a solução passa pelo aumento de tarifas. Depois de um aumento de 50 por cento na bandeira vermelha 2, teremos uma nova rodada de aumento amanhã, possivelmente também de 50 por cento. Os impactos estimados no IPCA de 2021 seriam em torno de 0,33 por cento.

Um outro problema a ser endereçado é o aumento estimado em 30 bilhões de gastos com precatórios em 2022. Esse pagamento reduz o espaço fiscal do teto de gastos e inviabiliza outros aumentos, como o reajuste do Bolsa Família, também estratégico em ano pré-eleitoral. O governo quer parcelar esses gastos ou retirá-los do teto. O mercado critica um parcelamento, dizendo ser uma forma de calote da dívida.

Vamos olhar para o lado bom?

Tanto Guedes quanto Roberto Campos estão com discursos bem alinhados de melhora fiscal. A estimativa de deficit para 2022 estaria abaixo dos 70 bilhões previamente anunciados e representaria cerca de 0,3 por cento do PIB. Seria uma redução importante, quase zerando nosso primário.  

Em uma matéria muito boa do Valor Econômico, Fabio Graner conta que quando olhamos para os gastos com pessoal, uma das maiores contas das despesas do país, houve uma queda real de cerca de 3 por cento.

Mas olhando o número por dentro, percebemos que essa queda não foi redução de gastos, mas sim congelamento de salários (medida aprovada durante a pandemia como "moeda de troca" para o auxílio), juntamente com o aumento da inflação, que corroeu o poder de compra do funcionalismo.

Fabio alerta, de forma muito prudente, que essa redução de gastos é muito frágil, uma vez que aumentam as pressões para que ajustes sejam feitos no ano seguinte e recomponham os valores perdidos, pressionando o orçamento dos anos posteriores.

O ex-presidente do BC, Celso Pastore, disse em seminário que atribuir a melhora fiscal à eficiência do governo "é um ato que nenhum Presidente do BC deveria ter", pedindo perdão pela franqueza e mostrando que o efeito veio da inflação. Tem uma matéria no Valor do Alex Ribeiro (um dos meus jornalistas preferidos) que fala sobre isso e é uma leitura obrigatória.

Mas não era para falar do lado bom?

É verdade! Mil perdões.

O lado mais pragmático, não necessariamente bom, é que, tirando a alta das expectativas de inflação para 2021, nada do que eu expus para vocês fará muito preço no mercado atual.

A crise hídrica já está bem precificada nos preços de mercado, com a inflação implícita para os próximos 5 anos na casa dos 5,5 por cento, e o Focus de 2021 em 7,11 por cento. Ou seja, a não ser que o reajuste proposto amanhã seja maior do que 50 por cento, isso tudo já está nos preços.

A flexibilização do teto com os precatórios também já está nos preços, além disso, foi o motivo da piora das taxas longas nas últimas semanas.

O resultado fiscal de 2022, que o governo diz que será 0,3 por cento, é estimado a 1,1 por cento no relatório Focus. Ou seja, ninguém está acreditando muito nesses números.

Isso é muito importante dizer, pois na maioria das vezes a chave para investir bem não é exatamente ler as notícias de jornais, mas sim saber o que dali já está precificado.

É assim que percebemos onde estão as assimetrias.

Por exemplo, se eu leio uma notícia negativa, posso achar que é bom vender bolsa. Mas sabendo que essas notícias já estão 100 por cento precificadas e sabendo que a bolsa já caiu bem nas últimas semanas, talvez a assimetria esteja em comprar bolsa, e não vender.

Talvez o jogo da vez seja apostar em uma reversão do pessimismo.

Para ser um bom investidor, é preciso ser pragmático. Hoje eu acordei triste com o Brasil — mas com vontade de comprar bolsa, e não vender.

Para isso é preciso ter muito desprendimento. Você tem?

Se não tiver, não tem problema. Nós fomos treinados diariamente para ter esse tipo de comportamento. Você pode ser treinado também. É por isso que vale a pena um acompanhamento, acesse o Renda Fixa PRO e saiba mais.

Um abraço e uma excelente semana.

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