Como assim -10 por cento?

Luiz Felippo 29/08/2021 11:59 5 min
Como assim -10 por cento?

É interessante como uma queda de -10 por cento na bolsa assusta. Acredito que seja

porque o investidor ficou mal acostumado, afinal, tem algum tempo que só vemos a bolsa subir.

Em 7 de junho, o Ibovespa atingiu 131 mil pontos, e hoje gravitamos em torno dos 118 mil – o que, grosso modo, é uma queda de 10 por cento.

O mercado tem receio das ideias populistas do Bolsonaro. Os desejos do presidente – como turbinar o Bolsa Família, dar subsídios ao diesel, entre outros – colidem com o fato de que Teto dos Gastos já está no limite.

Como a criatividade política é enorme, os agentes econômicos já pensam o pior. Assumem que haverá manobras para garantir que essas benesses aconteçam.

A forma como todo esse medo reflete nos ativos é por meio de aumento no prêmio de risco, exatamente o que estamos presenciando no juro longo acima de 10 por cento,  no dólar a 5,26 reais e na bolsa abaixo dos 120 mil.

É claro que os fundos de ações não saíram ilesos desse movimento. A média dos fundos que eu acompanho chegou a cair perto da bolsa.

Gráfico apresenta performance dos fundos de ações versus Ibovespa – 07/06/2021 = 100.
Fonte: Nord Economatica

Com as cotas a “preços mais atrativos”, a pergunta que eu mais recebi no meu Instagram (@luizfelippo1, segue lá!) foi: as cotas estão mais baratas agora, vale a pena investir mais em fundos?

Seria mesmo isso? As cotas estão mais baratas? Eu deveria estar comprando mais também?

Peguei-me pensando sobre isso nos últimos dias e queria mostrar para você por que isso pouco importa no fim do dia.

Na teoria, sim

Em teoria, sim, as cotas dos fundos de ações ficam mais baratas quando você tem uma queda.

Vamos pensar de forma simplista por um momento. A ideia por trás dos fundos é que eles sejam conglomerados de ações geridos por um gestor.

Se não houve nenhuma mudança de fundamento, quando o mercado sofreu, as empresas ali representadas ficaram mais “baratas” e aumentaram a sua TIR (taxa interna de retorno). Então, pensando em um cotista que entrou nesse período, ele está comprando um portfólio que tem um potencial maior a partir daquele momento.

Gráfico apresenta a relação entre Valor da cota e tempo.
Fonte: Desenhos ruins do Luiz

Logo, sim, em teoria, um cotista que entrou em um momento de sangria dos mercados teria comprado as cotas “mais baratas" e teria uma TIR maior (fruto do portfólio adquirido estar mais descontado).

A questão é: seria uma estratégia imprescindível como você vê nas ações?

Já na prática…

Quem me conhece sabe que eu não gosto dessa ideia de repercutir conceitos sem ao menos testá-los. Com tanta groselha sendo dita no mundo digital, é sempre bom desconfiar de pessoas que têm muita certeza de tudo.

Então vamos começar nosso experimento. Para o teste de hoje, utilizei o IQT, um índice que reproduz o retorno dos fundos de ações ativos.

Vamos utilizar esse índice porque conseguimos ter um histórico bem longo da performance dos gestores, passando por crises de todos os formatos (Ásia em 1997; Rússia em 1998; Subprime em 2008; Dilma II 2014-2015; Covid-19 em 2020 e também momentos de euforia, como Lula I em 2002 - 2007; Temer e Bolsonaro em 2016 - 2020).

Gráfico apresenta evolução da cota do IQT ao longo das décadas (1996 a 2018).
Fonte: Nord Research e Quantum


Durante esses 23 anos de histórico de dados, extraí deles 25 pontos com os maiores drawdowns (perdas máximas) do período, que coincidem com os pontos em que as cotas tinham seu menor valor.

Logo, para testar a ideia de que investir nas cotas quando elas caem é efetivo, vamos investir 4000 reais em todos esses pontos (totalizando 100 mil). Alternativamente, digamos que eu seja supersticioso e só invista em viradas de ano (31 de dezembro para dar sorte no ano seguinte).

Qual retorno será maior ao longo do tempo? Comprando nas mínimas ou investindo sempre no dia dos fogos?

Para isso, eu calculei a Taxa Interna de Retorno das duas estratégias e os resultados foram estes:

Tabela com Taxa Interna de Retorno dos dois investidores.
Fonte: Nord Research e Quantum

Na tabela acima, fica claro que a Estratégia A – aquela que sempre compra as cotas no seu menor valor – é a vencedora, com uma TIR de 17,56 por cento ao ano. A estratégia B, supersticiosa por natureza, não ficou muito atrás (uma TIR de 16,00 por cento ao ano).

Veja que, ainda que você consiga acertar TODOS os pontos de mínimo, você conseguiria um retorno de 1,5 por cento ao ano a mais – o que não é nenhum absurdo, mesmo com o poder dos juros compostos.

Como somos seres humanos, provavelmente acertaremos bem menos pontos. Isso só prova algo muito importante: não é isso que realmente importa.

O que realmente gera valor

É natural existir essa aura sobre saber o momento certo de investir. Para muitas pessoas, investir ainda é sinônimo de comprar ou vender um ativo financeiro.

A verdade não poderia estar mais longe disso. O segredo do sucesso para quem é investidor de fundos não vai ser ter comprado mais ou menos barato (o que ficou evidente ao longo do texto de hoje).

Minha recomendação é: compre sempre. Algumas vezes, você terá investido na alta e outras acertará o valor mínimo. Isso vai ter pouco impacto no futuro.

A grande conquista será feita em dois outros campos: (i) alocação de portfólio e (ii) escolher bons gestores.

Alocar bem o seu portfólio é entender que existe MUITO VALOR em ter uma combinação de classes de ativo que explora retornos diferentes e se adequa a momentos distintos no tempo.

Além disso, é compreender que essa combinação acaba gerando mais retorno a longo prazo e é superior a estar em somente uma delas. Complementar a isso, tampouco adianta ter uma carteira equilibrada se os gestores responsáveis pelas estratégias não são ganhadores de dinheiro a longo prazo.

É por isso que essa combinação é tão importante. O que eu faço no Nord Fundos é entregar esses dois fatores em uma bandeja para você, mostrando qual é a alocação e em quais fundos você deve investir.

Tudo já mastigado e prontinho para você. Espero você do outro lado!

Um abraço.

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