Cielo agora é “buy”?

Futuros de NY sobem em semana marcada por inflação nos EUA

Nord Research 08/08/2022 13:00 9 min Atualizado em: 08/08/2022 18:51
Cielo agora é “buy”?

Nord Insider

Nesta segunda-feira, 8, os mercados em Nova York amanheceram em alta, em meio à expectativa de que a inflação esteja começando a ceder nos Estados Unidos.

Na agenda econômica, sai o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal, IPC-S, referente ao período entre os dias 29 de julho a 5 de agosto, a balança comercial semanal e o relatório Focus semanal. Nos Estados Unidos, o mercado está sem divulgações de dados econômicos relevantes.

Principais assuntos de hoje

  • Cielo agora é “buy”?
  • PetroRio (PRIO3): O melhor ainda está por vir; entenda

O que esperar da Cielo (CIEL3) após suas ações dobrarem de valor no ano?

Criada nos anos 90 para desenvolver o mercado de cartões de crédito no Brasil e como uma joint-venture (empreendimento conjunto) entre a Visa e grandes bancos, como Banco do Brasil e Bradesco, a Visanet se consolidou, em pouco tempo, como a maior empresa do setor de meios eletrônicos de pagamento no país, tendo operado com um contrato de exclusividade com a própria Visa por quinze anos (entre 1995 e 2010).

Pouco antes do término desse contrato, a companhia mudou de nome e passou a se chamar Cielo, que significa “céu” em italiano e espanhol, em alusão a que não haveria limites para a empresa a partir daquele momento e visando as futuras parcerias que adotaria com outras bandeiras de cartão, como Mastercard e American Express.

Em 2009, a Cielo realizou o seu IPO (Oferta Pública Inicial) na bolsa brasileira, levantando mais de 8 bilhões de reais que contribuíram para o seu avanço nos anos seguintes. Capitalizada e com contratos firmados com as principais empresas de pagamentos, a companhia passou a “nadar de braçada” e praticamente de forma solitária dentro desse mercado.

Mas será que realmente não existiam limites para Cielo?

O analista da Nord, Victor Bueno, observa que, sem tantas barreiras de entrada, outros competidores foram aparecendo e ganhando força ao longo dos anos. O crescimento de concorrentes como Stone (STOC31), Getnet (GETT3) e PagSeguro (PAGS34) fez com que a Cielo deixasse de deter mais da metade do mercado de adquirência, em 2016, e passasse a deter o market share atual de 30 por cento.

Ele aponta que a expansão dessas companhias contribuiu para que a Cielo reduzisse o seu TPV (volume geral de pagamentos) nos últimos anos e também visse uma compressão de seu take rate (taxa obtida em cada transação), o que, consequentemente, resultou em uma piora expressiva em seus números e margens reportadas.

Vale lembrar que outras questões, como a chegada do PIX, também aumentaram os desafios para a empresa.

Diante desse cenário, a Cielo percebeu que precisava ir além das maquininhas de cartão e passou a oferecer um ecossistema mais completo de produtos e serviços, como a Cielo Store (loja de apps para auxiliar na gestão dos clientes), Cielo Farol (análise de perfil de venda), Cielo Promo (gestão de campanhas de fidelização), além de serviços de segurança anti-fraude e de antecipação de prazos de liquidação de transações.

Gráfico apresenta TPV mercado de adquirência e market share.
TPV mercado de adquirência e market share. Fonte: Cielo‌ ‌

O que os últimos resultados mostram?

Com o crescimento do número de pagamentos e o aumento da penetração de cartões no consumo das famílias, a Cielo registrou no segundo trimestre de 2022 (2T22) o maior TPV de sua história (+34 por cento vs. 2T21). Acreditamos que esse resultado fez com que a empresa estancasse, pelos menos momentaneamente, as perdas de participação de mercado.

Ressaltamos que a companhia está passando por um programa de desinvestimento, já tendo vendido a M4U para a Bemobi no ano passado e, agora, a MerchantE por menos da metade do valor que havia pago em 2012.

Mesmo assim, o valor da venda da MerchantE contribuiu para que a Cielo também registrasse o seu maior lucro desde o último trimestre de 2018.

Gráfico apresenta resultados e margens da Cielo.
Resultados e margens da Cielo. Fonte: Bloomberg

O que esperar da empresa e de suas ações daqui para frente?

Ainda que os últimos resultados trimestrais da Cielo estejam mostrando sinais de uma possível recuperação — com a margem líquida voltando acima de 10 por cento pela primeira vez desde o período pré-pandemia —, nosso analista considera que o cenário permanece desafiador, ao passo que seus principais concorrentes também devem continuar buscando aumentar as suas representatividades, além de diversificar suas fontes de receita.

A Cielo saiu de um lucro de 4 bilhões de reais, em 2017, para uma companhia que passou a lucrar menos de meio bilhão três anos depois, em 2020.

Nesse período, as ações da empresa seguiram a mesma tendência, chegando a depreciar mais de -90 por cento com o mercado pessimista em relação à sua visibilidade em meio ao avanço da concorrência

Em 2022, porém, os papéis de CIEL3 mais do que dobraram de valor (+120 por cento) e seguem acompanhando praticamente lado a lado os resultados da companhia, mas, desta vez, para o lado oposto. Com essa valorização, a empresa é negociada, agora, a cerca de 11x lucros — em linha com o múltiplo médio da bolsa nos últimos 15 anos.

Mesmo com melhores expectativas futuras, acreditamos que ainda é cedo para afirmar que a Cielo voltou a ser a mesma empresa de 2016 (ou até melhor).

Preferimos aguardar sinais mais claros de que a companhia poderá voltar a registrar lucros multibilionários para, então, olharmos com mais atenção para ela no futuro. Por ora, mantemos a posição para ficar de fora.

Gráfico apresenta lucro e cotação das ações da Cielo.
Lucro e cotação das ações da Cielo. Fonte: Bloomberg

Os próximos passos da PetroRio para manter crescimento

A PetroRio, ou Prio (PRIO3), teve mais um semestre positivo com um incremento na produção e nas vendas diante da alta no preço do barril Brent (principal referência internacional para o petróleo), que atingiu 123,58 dólares em junho.

A companhia teve receita líquida recorde, num total de 377 milhões de dólares, alta de +95 por cento na comparação anual.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de 269,3 milhões de dólares, salto de +122 por cento na comparação com o mesmo período do ano passado.

Em nota divulgada ao mercado, o diretor financeiro da Prio, Milton Rangel, disse que a companhia trabalha para aumentar seus níveis de produção e racionalizar seus custos: “Acreditamos que a melhor proteção contra a volatilidade do Brent é a redução do custo de extração, o lifting cost, e esse continuará sendo um dos pilares para os nossos projetos”.

Próximos passos para o crescimento

A analista da Nord, Giulia Nicola, destaca que a Prio apresenta fortes perspectivas de crescimento nos próximos anos, contando com (i) a revitalização do campo de Frade (2T22), (ii) aumento da produção com Albacora Leste, em 2023, e (iii) Wahoo, em 2024.

Destacamos que no segundo trimestre de 2022 (2T22), a Prio deu início à campanha de revitalização de Frade, com o objetivo de perfurar novos poços injetores e produtores, aumentando a produção da companhia.

A primeira fase contava com dois novos poços injetores e um produtor, o ODP4, com uma produção inicial de 15 mil barris por dia de petróleo (bastante superior às expectativas iniciais de 6 mil barris). Com isso, a Prio dobrou a produção do campo de Frade e aumentou a produção da PetroRio em +45 por cento.

Como essa primeira fase foi executada em um tempo mais curto do que o esperado e com um custo -30 por cento inferior ao previsto, a companhia decidiu perfurar o segundo poço produtor, o MUP3A, que estava previsto para a segunda fase da Campanha de Revitalização de Frade.

Utilizando da mesma estrutura subsea de um outro poço da companhia (MUP3), este teve um custo de execução bem inferior ao ODP4, mas apresentou também uma produção inferior aos demais (3500 barris de óleo por dia), como era esperado.

Dessa forma, na primeira fase da campanha de revitalização, a companhia passou a contar com quatro novos poços (dois injetores e dois produtores) e conseguiu aumentar sua produção de 33,3 mil para 52 mil barris de óleo por dia. Estimamos que esse aumento aparecerá nos números da companhia a partir dos resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22).

Gráfico apresenta produção atual de PRIO3.
Produção atual de PRIO3. Fonte: Prio

Além da campanha de revitalização de Frade, no 2T22, a PetroRio adquiriu o campo de Albacora Leste, que possui uma produção atual de 30 mil barris de óleo por dia. O closing da operação é esperado para o início de 2023.

Desse modo, tendo 90 por cento da produção, esperamos ter no primeiro semestre do ano que vem uma adição de 27 mil barris por dia à produção de PRIO, com Albacora Leste entrando em seus resultados.

Mais um fortíssimo crescimento para a companhia, que pretende fazer a revitalização do campo e acredita que ele possa chegar a 55 mil barris de óleo por dia. Excelente, não é? Mas não para por aí.

Nossa analista menciona ainda a compra do campo de Wahoo, com uma produção estimada de 40 mil barris por dia, devendo entrar nos seus resultados em 2024. O campo está localizado ao lado de Frade, sendo possível a criação de um novo cluster para a companhia, reduzindo o seu custo de extração por compartilharem toda a infraestrutura.

Localização do campo de Wahoo.
Localização do campo de Wahoo. Fonte: Prio

Negociação de Albacora

De acordo com o CEO da Prio, Roberto Monteiro, a companhia fez uma nova proposta a Petrobras (PETR3) pelo Campo de Albacora, localizado na costa norte do Rio de Janeiro, baseada no fato de que a reserva é maior do que inicialmente foi calculada quando do início das negociações de compra da área petrolífera.

Nossa analista aponta que houve atraso nas negociações — era previsto encerrar em maio deste ano —, mas que ainda estão em andamento. Os dois lados lutaram para chegar a um valor justo por Albacora, mas as perspectivas de compra do ativo estão menores agora, diante da troca de comando na presidência da Petrobras, em junho, quando Caio Mário Paes de Andrade substituiu José Mauro Coelho no comando da companhia.

Na nossa visão, a troca no comando da estatal traz desafios para a compra de Albacora, dado que, com a mudança das partes, nem todos estão de acordo com a Campanha de Desinvestimento da estatal, e há rumores de que ela poderá estar chegando ao fim.

O desinvestimento da Petrobras em Albacora é uma preocupação menor já que, de todos os campos que a Prio comprou nos últimos anos, apenas Albacora Leste, na Bacia de Campos, veio da estatal. Os demais vieram de outras petroleiras, reforça nossa analista. Logo, vemos que a companhia aposta em um crescimento que não dependa da maior petroleira do país.

Novas compras de ativos

Como a ideia é olhar também para processos bilaterais, que não passam necessariamente pelos da Petrobras, existem outros campos maduros de interesse da Prio, como Peregrino e Parque das Conchas – prova de que a companhia está constantemente avaliando novas possibilidades de crescimento que independem de um único vendedor.

Mantemos nossa recomendação de compra para PRIO3 por conta da qualidade de seu portfólio, eficiência operacional e capacidade de racionalizar seus custos. Negociando a 4,9x EBITDA, consideramos que o momento da ação é muito atraente.

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