Brasil, o país do futuro?

Marilia Fontes 07/06/2021 12:09 5 min
Brasil, o país do futuro?

Quem vê a bolsa bater 130 mil pontos e o dólar voltar para 5 reais tem a nítida impressão que o Brasil virou o país do futuro.

As explicações sobre a razão de agora tudo ter mudado são duas, segundo o mercado.

  1. Dados de atividade mais fortes;
  2. Commodities.

Sobre a atividade, tivemos, na semana retrasada, dados do PIB do terceiro trimestre bem acima do esperado. Enquanto o mercado estimava uma alta de 0,5 por cento, o resultado ficou o dobro, com alta de 1 por cento.

O principal fator que puxou o PIB pelo lado da oferta foi o setor de agronegócio, com alta de 5,6 por cento. Os outros setores tiveram altas modestas. O setor de agronegócio está sendo extremamente beneficiado pela alta dos preços das commodities e as boas safras do período, o que nos leva ao segundo ponto.

Mas antes, é importante pontuar que essa alta levou os economistas a estimarem um PIB para o final do ano em torno de 5 por cento, de anteriores 3,5 por cento. Porém, no final do ano passado, antes da segunda onda da Covid-19, as estimativas já giravam em torno de 4,5 por cento. A segunda onda jogou as previsões para baixo e, agora, o setor de agronegócio surpreendeu positivamente.

A notícia é certamente muito positiva, ainda mais em uma situação de recuperação econômica. Qualquer ajuda, seja de onde for, é extremamente bem-vinda e deve dar um suporte acima de tudo social.

Mas é preciso ter os dois pés no chão e olhar com um certo ceticismo para análises de que agora o Brasil é o país do futuro, uma vez que ele costuma ser o grande celeiro do mundo.

É preciso lembrar que ano que vem teremos uma eleição difícil e polarizada, que pode alterar completamente as características da nossa política econômica pelos próximos 4 ou 8 anos.

Estou vendo muito analista e gestor importante dizendo que se der Lula não teria problema, uma vez que ele poderia implementar o pragmatismo que teve em relação às contas públicas no seu primeiro mandato de governo, além de escolher alguém que o mercado gosta para a Fazenda.

Fazendo o disclaimer que eu respeito muito esses gestores e que eles têm muito mais anos de experiência do que eu e muito mais conhecimento, eu discordo humildemente dessas convicções.

Não podemos ignorar que foi o Lula que aumentou o papel do BNDES criando o famoso "parafiscal" e a meia-entrada da taxa de juros, nos quais metade dos empréstimos tinha taxas subsidiadas e prejudicava o trabalho do Banco Central; isso sem falar das empresas "campeãs nacionais".

Ainda, não podemos deixar de lado que foi o Lula que aumentou o papel dos bancos estatais, utilizando seus balanços para fomentar crédito e dar suporte para a atividade.

Se der Lula, pode não ser uma situação caótica como foi o segundo mandato da Dilma. Ok, afinal, ele tem uma política muito mais pragmática, porém ele tem também ideias desenvolvimentistas e intervencionistas, que seriam um retrocesso vagaroso das diversas políticas liberais adotadas desde o impeachment de 2016.

Posto isso, acho cedo para dizer que o Brasil é o país do futuro e acho cedo para o mercado precificar todo esse cenário positivo antes dele se concretizar.

De qualquer modo, fato é que é para lá que o mercado está indo, por esse motivo, nós precisamos reagir a isso, e não contestar.

Os preços das commodities de fato estão bombando em todo o mundo. As commodities agrícolas podem ter seu efeito mais temporário, uma vez que são mais fáceis e rápidas de sofrerem um ajuste na oferta.

Já as commodities metálicas não são facilmente ajustáveis e têm um fundamento de suporte de preços dado pelos planos agressivos dos EUA e China de investimento em infraestrutura e tecnologia. Isso deve manter esses preços altos.

Ademais, isso abriu uma janela de captação fora do Brasil importante para empresas do ramo. Petrobras e Petrorio, por exemplo, anunciaram emissões importantes na mesma semana e pressionaram a cotação do dólar.

Quando empresas grandes captam lá fora, esse fluxo é internalizado posteriormente, para que elas aloquem os recursos na sua atividade aqui no Brasil. Essa internalização cria uma demanda por reais. O mercado certamente antecipa esse fluxo criando uma pressão compradora desde já, na expectativa da posterior entrada. E isso faz com que o real se valorize.

Vários economistas, inclusive nosso ministro Paulo Guedes, já mencionavam que o real estava exageradamente desvalorizado. Quando olhávamos para os nossos termos de troca (quanto nossos produtos exportados estavam valorizados em relação aos nossos produtos importados), já víamos uma disparidade grande na cotação.

O CDS (risco-brasil) também indicava para um real mais valorizado. Por fim, a expectativa de alta da taxa Selic também era um motivo ventilado para uma possível valorização do real.

Mas apenas quando as 5 emissões fora do Brasil foram anunciadas, assim como os dados mais positivos do PIB, que de fato o real andou para próximo de 5.

Juntando tudo isso que eu coloquei aqui, a bolsa valorizando forte, o real próximo a 5 e o meu receio em relação às eleições do ano que vem, eu acredito que este é um bom momento para ir aos poucos diminuindo o risco da sua carteira.

Pelo menos é isso que estou fazendo para a minha. Aproveitando a valorização das minhas ações para ir vendendo aos poucos as posições e fazendo caixa. Assim como aproveitando a cotação mais favorável do real para mandar um pouco mais de dinheiro para fora do Brasil.

Se tudo der certo, eu vou ter perdido essa alta da euforia. Paciência, pois eu prefiro deixar dinheiro na mesa neste momento e pecar pelo conservadorismo.

Uma boa semana e bons negócios.


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