A nova ordem mundial

Marilia Fontes 15/02/2021 12:20 6 min Atualizado em: 01/04/2021 19:22
A nova ordem mundial

Em janeiro, me peguei pensando sobre como serão as coisas daqui a 30 anos.

Meu filho fez aniversário e ganhou um dinheirinho da família. Eu, como boa mãe financista, fui pensar em como alocar.

A primeira opção era a clássica e óbvia Poupança. Seria fácil e é a opção que 99 por cento dos pais usam. Mas fiquei pensando quanto essa poupança poderia render em 30 anos?

Imaginei uma Selic média de 5 por cento no período. A Poupança rende 70 por cento da Selic. Logo, se eu alocasse 1 real hoje, depois de 30 longos anos meu filho teria cerca de 2 reais e 80 centavos.

Fiquei pensando na cara que meu filho de 30 anos faria para mim sabendo que eu, com toda a minha trajetória de mercado, aloquei o dinheiro dele na Poupança. “Pô mãe, aí não dá... não dava pra colocar em bitcoin?”. Kkkk

Bom, a Poupança estaria fora de cogitação. Mas em qual ativo eu poderia alocar, que me desse chance de multiplicar o patrimônio do meu filho por várias vezes?

Esse tipo de pensamento te leva a imaginar como será o mundo daqui a 30 anos. Quais setores ainda vão existir? Quais não vão mais? Como as coisas serão feitas no futuro?

Por exemplo: será que teremos ainda carros movidos a gasolina? Será que ainda teremos carros? Será que eles serão autônomos?

Será que iremos morar na cidade? Será que o home office vai levar as pessoas de volta para o campo?

Como será o escoamento de produção no futuro? Ainda teremos investimentos pesados em infraestrutura?

Tudo isso são perguntas muito importantes de pensar, mas incrivelmente difíceis de responder. Eu não tenho ideia de como será o mundo daqui a 30 anos. Se eu fosse tentar cravar uma previsão, certamente eu erraria.

Mas tem coisas que eu sei. E podemos trabalhar com isso.

A internet tomou a forma que nós conhecemos em 1992. Ou seja, ela ainda não tem nem 30 anos. Desde que ela foi criada, mudamos totalmente a forma de conectar as pessoas. Cartas praticamente não existem. E-mails foram criados e já estão quase em desuso. Telefone fixo só serve para receber chamadas de telemarketing. Hoje cada indivíduo possui seu próprio dispositivo móvel.

O mundo moderno é tecnológico. Ele se transforma extremamente rápido. Os grandes vencedores desse novo mundo terão que ser capazes de se transformar rapidamente também.

Eu não sei exatamente qual empresa sairá como grande vencedora dessa corrida. Por isso, quando eu penso em investimento para daqui a 30 anos, eu penso em um índice de ações. O bom dos índices é que eles fazem exatamente este trabalho de aumentar a participação das empresas que estão crescendo e reduzir a participação das empresas ruins. Se você comparar a composição da bolsa americana há 10 anos e hoje, verá uma diferença incrível. Essa é uma característica muito desejada para o prazo em questão.

O segundo ponto a se pensar é, claro, em qual índice investir. E, para isso, temos que pensar em qual país investir. Em um mundo globalizado como o nosso, o país que oferecer mais incentivos corretos para o setor produtivo terá maior chance de ter boas empresas.

Olhando para a geografia atual, podemos excluir alguns países:

- A Europa em geral não é um lugar com cultura de tecnologia e inovação. Eles foram, por muito tempo, os campeões de indústrias importantes, que hoje estão perdendo espaço para outras tecnologias mais baratas. Além disso, eles se tornaram um grande bloco econômico, mas os países são tão heterogêneos entre si que a centralização das políticas acaba piorando a capacidade de cada país desenvolver políticas internas eficientes.

- América latina em geral, incluindo Brasil, também não tem cultura alguma de investimento em força de trabalho ou tecnologia. A região ainda é dominada pelo populismo, pela corrupção, baixo investimento e baixa produtividade. Somos fornecedores de commodities e mão de obra barata para o resto do mundo.

- A África está ainda bem atrasada, até mesmo se comparada ao Brasil. Questões sanitárias e humanitárias ainda os colocam bem atrasados em relação ao resto do mundo.

Aí chegam os países que realmente tem chance de combater e vencer nessa nova era: China e Estados Unidos. Esses países são conhecidos por possuírem excelência na educação e altos investimentos em tecnologia, ambas características extremamente importantes no contexto atual. Ter um mercado de trabalho qualificado faz toda a diferença se você pretende competir de igual para igual com os melhores do mundo.

Ambos me cheiram muito prósperos, mas eu pensei que precisava escolher apenas um. Então segui minha linha de raciocínio. Os EUA acabaram se perdendo um pouco na quantidade de estímulos pós-crise de 2008. A política monetária e fiscal extrapolaram o limite do amortecedor de crise para reivindicarem o papel de propulsores de crescimento. A compra de ativos valorizou o patrimônio de quem já era rico e aumentou a desigualdade social. A desigualdade vem gerando pressões por políticas sociais e de redistribuição. Biden, por exemplo, prometeu novos auxílios com aumento de carga tributária. É a bola de neve da má alocação de recursos.

Enquanto tudo isso acontece nos EUA, os chineses, com seu planejamento centralizado, dão um show de eficiência. A China foi um dos países mais bem-sucedidos no controle da pandemia. Surpreenderam o mundo todo ao construírem um hospital em 10 dias. São capazes de direcionar rapidamente recursos de um setor para o outro. Investem em infraestrutura de uma forma quase mágica, criando cidades inteiras em poucos anos. É atualmente um dos únicos países que ainda tem um certo nível de crescimento.

Bom, depois de pensar tudo isso, acabei optando por investir o dinheiro do meu filho na China. Usei o ETF do MSCI China Index. Fiquei lembrando de todas as vezes que ouvi que teríamos uma nova ordem mundial, com a China sendo o país mais próspero e dono da nova moeda forte. Lembrei dos artigos do Ray Dalio. E assim decidi.

Não foi uma decisão fácil. Pensei muito na Tesla, e como as empresas americanas também tinham capacidade de revolucionar o mundo.

Não sei se o meu filho, quando tiver 30 anos de idade, vai ficar feliz com minhas decisões. Certamente sua felicidade vai depender do retorno gerado. Mas só de pensar nele com 20 anos acompanhando a cotação do ETF, já fico feliz.

Um dia vou contar para ele a história de como eu investi o dinheiro que ele ganhou quando fez seu primeiro aniversário. Educação financeira começa em casa!

Até a próxima!

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