A bola de neve fiscal

Marilia Fontes 07/04/2021 12:30 4 min Atualizado em: 09/04/2021 15:05
A bola de neve fiscal

Continuamos apreensivos com os desdobramentos políticos do orçamento de 2021, aprovado no mês passado. Como já falei por aqui, o orçamento foi uma peça de ficção, que estima para baixo gastos obrigatórios (para não despertar os gatilhos do teto de gastos) e coloca emendas parlamentares no lugar.

O TCU já foi envolvido na conversa, e a sanção do presidente pode configurar crime de responsabilidade fiscal. Os jornais estão repletos de alternativas jurídicas para contornar a situação. A maioria das soluções envolve brechas jurídicas para viabilizar mais gastos sem bater na lei de responsabilidade. Ou seja, eles não entenderam nada!

As leis de responsabilidade fiscal foram criadas para evitar um colapso fiscal, como vimos em 2014 e 2015. O aumento dos gastos foi tão grande que o dólar disparou, os juros subiram, a inflação acelerou para 10,67 por cento, o desemprego saltou para cima de 10 por cento e a economia rumava para o colapso total.

Não adianta gastar mais "dentro da lei". Temos que mostrar que nossa trajetória de dívida é cadente. Ou seja, não apenas pararemos de aumentar a dívida, como também iremos reduzi-la ao longo do tempo.  

O aumento da dívida somado ao aumento da taxa Selic é nitroglicerina. Estamos saltitando no limiar de um penhasco chamado Dominância Fiscal. Infelizmente, não vejo esse cenário melhorar muito por dois motivos (que se retroalimentam):

  1. Redução da popularidade do presidente.

Pesquisas recentes mostram que cresceram as avaliações de "ruim e péssimo" do governo Bolsonaro. Isso aumenta a pressão por medidas populistas do lado da população e de aumento de gastos por parte do Congresso, que vende seu apoio mais caro.

 2.   Proximidade das eleições.

A proximidade das eleições também aumenta as pressões populistas, ainda mais com Lula podendo ser candidato e mostrando que estaria na frente nas pesquisas.

Tudo isso me faz crer que será difícil pensarmos na aprovação de novas reformas ou medidas impopulares de redução de gastos. Pelo menos é fácil pensar que isso não acontecerá enquanto os preços de mercado não estiverem bem mais estressados.

Juntamente com isso, os últimos dados de atividade nos EUA se mostraram bem robustos. Dados de emprego surpreenderam positivamente, com aumento bem acima do esperado de criação de postos de trabalho, além de redução maior do desemprego.

O sobreaquecimento da economia americana é o tema mais quente entre os economistas. Uns acreditam que teremos descontrole inflacionário, ao passo que outros acham que não chegaremos a tanto, uma vez que o Fed agiria de forma mais agressiva.

O fato é que uma recuperação dessas deve levar a taxa de juros americana para patamares bem mais altos. Se as taxas americanas sobem, as taxas de todos os emergentes sobem também!

Enquanto, para eles, isso significará economia muito aquecida, para nós, essa alta significará custo de dívida elevado, além de desestímulo para a nossa recuperação econômica ainda frágil.

Na semana passada, tivemos um resultado negativo na produção industrial de fevereiro. Enquanto o mercado esperava um crescimento de 0,5 por cento, tivemos uma queda de 0,7 por cento. Os economistas aqui estão revisando o PIB para baixo, enquanto lá estão revisando o PIB para cima. Percebe o descasamento?

A recuperação fraca também influencia em uma menor arrecadação, que também bate no fiscal. Você está preparado para isso?

“Como se preparar, Marilia?”

Tenho 3 observações que acho que vão ajudá-lo:

  1. Em renda fixa, evite juros longos. Evite comprar títulos de vencimentos longos. Você deve lembrar que as taxas longas chegaram a subir até 16 por cento em 2015 e 2016. Só voltaram a cair após o impeachment. Risco fiscal é igual a juros para cima, e os longos são os mais arriscados.
  2. Em bolsa, esteja menos exposto à atividade local e compre empresas que se dão bem quando os juros sobem. Empresas exportadoras, por exemplo, se beneficiam de uma atividade global aquecida, sem se prejudicar pelo crescimento fraco interno. Lembrando que estou falando de forma generalizada. Tem empresas que estão tão baratas que uma recuperação fraca não terá impacto.
  3. Diversifique sua carteira investindo fora do Brasil. Ações americanas serão beneficiadas por esse cenário de sobreaquecimento. Surfar essa onda lá com um pedaço do seu patrimônio é uma excelente diversificação e proteção para o nosso cenário interno ruim. Se você não conhece empresas americanas boas, o Cesar Crivelli pode te ajudar no Nord Global.

Boa semana e bons negócios.

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