A batalha dos ETFs

Luiz Felippo 01/08/2021 13:00 6 min
A batalha dos ETFs

Disputando Cada Centavo

Não é novidade para ninguém que os altos níveis de juros amorteceram os investidores. Com liquidez, baixíssimo risco e altos retornos financeiros, não havia motivos para migrar para outras classes de ativos.

A queda do CDI quebrou uma dessas pernas, talvez a principal para os investidores: a rentabilidade. Só para se ter uma noção da magnitude do ajuste, em tempos de juros a dois dígitos, bastava 5 anos para dobrar o capital. Hoje, são 35 anos.

Ao mexer no bolso, o investidor teve que repensar as suas escolhas de alocação. A solução passou a ser diversificar entre classes de ativo e tomar mais risco – exatamente como ocorre no resto do mundo.

É aqui que as plataformas trouxeram fundos de diferentes temáticas, Private Equity, SPAC, FIPs, Cannabis etc.

Como o Brasil é cerca de 1,5 por cento do mercado de capitais e sempre viveu da renda fixa, havia um mundo de oportunidades a oferecer.

Essa é a raiz da rivalidade entre BTG e XP, disputando a fração do AuM da “futura” indústria como um todo.  

O movimento recente de disputa por escritórios de agente autônomo parece acontecer também no campo dos ETFs agora.

Na última semana, o BTG buscou inovar e trazer um ETF para replicar o Ibovespa (IBOB11) com a menor taxa do mercado: 0,03 por cento.

A XP contra-atacou com um fundo que aparentemente seria “taxa zero”, mas na verdade cobrará 0,15 por cento após bater um bilhão de patrimônio – o que, para mim, não faz muito sentido, até porque você deveria baratear o produto conforme ele ganha escala.

A questão é: será que existe espaço para a gestão passiva na sua carteira?

Antes de responder a essa pergunta, vamos dar um overview na indústria tanto aqui quanto globalmente.

O mundo de ETFs

Vamos começar do básico. Se você não conhece a nomenclatura, o ETF (Exchange Traded Fund) é um fundo de investimento que tem suas cotas negociadas em bolsa.

Alguns exemplos de ETF são o BOVA11 (buscando replicar o Ibovespa) e o IVVB11 (buscando replicar o S&P500).

Ainda que você tenha escutado pouco dessa indústria, ela é gigantesca no resto do mundo. Globalmente, são mais de 7 trilhões de dólares investidos nesse segmento, alocados em 7000 tipos diferentes.

Gráfico à esquerda: AuM dos ETFs globalmente (bilhões de dólares); à direita: mercado de ETFs Brasil (bilhões de R$).
Fonte: B3 e Statista

O fato de a indústria de ETFs estar tão desenvolvida lá fora tem correlação com a dificuldade da gestão ativa de superar seus índices de referência (S&P, Nasdaq, entre outros).

Inclusive, esse fato não é nada novo. Em 2007, Warren Buffett, um dos melhores stock pickers que o mundo já produziu, apostou uma corrida de 10 anos em favor dos ETFs versus uma cesta de gestores. Não preciso nem lhe dizer que a gestão passiva deu uma surra, com retornos bastante superiores.

No Brasil, é o inverso. A indústria de ETFs é bastante nascente, contando somente com 40 bilhões de reais – o que, em dólares, é uma merreca. Enquanto o mercado internacional tem 7000 ETFs diferentes, temos somente 45 opções, e muitas delas são similares (como mostra a tabela abaixo).

Tabela de ETFs Brasil.
Fonte: B3

Talvez seja pelo potencial que essa indústria tem que ambos os players (BTG e XP) estão investindo nesse negócio. Há muitas opções ainda a serem exploradas, é por isso que acredito que cada vez mais teremos novidades em termos de gama de produtos e menores taxas.

Ainda que exista algum preconceito em utilizar gestão passiva no Brasil, há formas bastante interessantes (e rentáveis) de se utilizar ETFs no seu portfólio.

Um ETF tem espaço no seu portfólio?

Por mais que eu seja um entusiasta da gestão ativa, afinal, meu papel é recomendar gestores ativos, entendo que não podemos ser cegos.

Em certas circunstâncias, a gestão passiva pode ser tão (ou mais) efetiva do que a ativa.

Citarei duas utilidades que acho interessantes. A primeira é o investimento no exterior, em que grande parte dos gestores ativos tem dificuldade de gerar retornos acima dos seus benchmarks (como mostra o gráfico abaixo).

Gráficos: à esquerda – Nº de fundos que superaram a performance do índice Nasdaq 100 por janela; centro – nº de fundos que superaram a performance do índice Nasdaq por janela; à direita – nº de fundos que superaram a performance do índice S&P 500 por janela.
Fonte: Bloomberg

Fica fácil ver que, em uma amostra de 3600 fundos, pouquíssimos conseguem bater a Bolsa americana em janelas de 10 anos. Além disso, falta também consistência, principalmente quando vemos que pouquíssimos gestores ativos superam o índice em todas as janelas.

Esses resultados corroboram bastante o que vejo nas corretoras, com alguns fundos internacionais sendo vendidos pelas plataformas como maravilhosos instrumentos quando, na verdade, não geram ótimos retornos acima dos seus benchmarks.

Além disso, os poucos gestores que batem o mercado frequentemente não estão disponíveis para os brasileiros.

Nesse caso, não adianta querermos ser bastiões cegos da gestão ativa. Se os dados corroboram que a gestão passiva é o melhor caminho, será por ele que vamos seguir.

Outro caso é aproveitar alguma oportunidade pontual de mercado.

Digamos que, em março do ano passado, você quisesse aproveitar para aumentar sua alocação de bolsa de 30 por cento para 50 por cento.

A questão é: qual é a melhor forma de se fazer isso? Seria aumentar a exposição em gestores ativos em mais 20 pontos percentuais ou fazer o mesmo só que via ETF de Ibovespa?

Eu acredito que seja via ETF e vou explicar o porquê disso.

Pelo caráter de movimento, ele tende a ser um pouco mais “tático”. Você não vai carregar 50 por cento de exposição à bolsa dali em diante, retornando à posição inicial quando o risco/retorno deixar de ser interessante.

Nesse sentido, o ETF tem prazo de resgate imediato, podendo zerar a posição na hora que quisermos. Já com os gestores, ao pedir o resgate, ficamos suscetíveis à cota, que se dará em 30 dias – o que não parece fazer sentido para uma movimentação de mais “curto prazo”.

Do outro lado, o que a história mostra é que a recuperação dos resultados após crises severas é maior no Ibovespa do que nós próprios gestores.

Fonte: Bloomberg

O meu recado aqui é simples: não precisamos demonizar uma estratégia ou outra. Precisamos entender o que faz mais sentido para cada caso, buscando aproveitar o que há de melhor em cada uma.

Como em tantas outras circunstâncias, o segredo está no meio do caminho.

Combinar é o caminho

Eu sou um cara que acredita em gestão ativa. Como alguém que estuda e respira a indústria de fundos 24 horas por dia, eu vejo muito valor em investir em gestores brasileiros.

Se você souber escolher bem, muitos deles serão capazes de dar uma surra no Ibovespa e gerar uma performance muito superior a ele.

É por isso que a minha alocação estrutural é em gestores ativos brasileiros, pois eu realmente acredito que ali tem valor a ser extraído.

Ao mesmo tempo, não podemos ser cegos, devemos ser céticos. Em alguns casos, a gestão passiva acaba tendo uma eficiência de resultados muito mais interessante do que a simples gestão ativa.

Então, nesses casos, vamos usá-la. Ao combinar as estratégias, acredito que temos um portfólio melhor, mais robusto e mais rentável no longo prazo.

E há também aqueles investidores que preferem escolher suas próprias ações, que fazem a carteira por conta própria.

Eu acho uma boa estratégia, desde que você tenha um método vencedor para escolher boas empresas. A boa notícia é que fazer isso pode ser mais fácil do que parece.

O Bruce gravou um vídeo explicando como ele faz para escolher as ações que coloca na sua carteira. Em 2 anos, ele conseguiu 8,45x mais retorno do que o Ibovespa.

Se você não assistiu ainda, vale a pena entender como uma combinação simples pode potencializar seus ganhos.

Deixo aqui o link do material.

Um abraço.

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