Bolsas caem com Evergrande; FOMC e Copom

Entenda a crise da incorporadora chinesa Evergrande e seus impactos no Brasil

Nord Research 22/09/2021 11:55 5 min
Bolsas caem com Evergrande; FOMC e Copom

Na agenda econômica desta terça-feira (21), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, divulgará as projeções para os países do G20.

No Brasil, começa a reunião do Comitê de Política Monetária, e nos Estados Unidos a reunião do Federal Reserve. Ainda nos Estados Unidos, o Tesouro leiloa Treasuries de 20 anos.

Nord Insider

Focus: mercado eleva projeção da inflação para 8,35 por cento


De acordo com o Boletim Focus divulgado nessa segunda-feira (20), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar o ano em 8,35 por cento. A previsão dos economistas desta semana é 0,35 ponto porcentual (p.p.) maior do que a da última semana.

Para 2022, a estimativa de inflação subiu de 4,03 por cento para 4,10 por cento.

No que se refere ao Produto Interno Bruto (PIB), a estimativa de crescimento para 2022 caiu de 1,72 por cento para 1,63 por cento.

O analista de renda fixa, Christopher Galvão, avalia que o Focus desta semana veio próximo às dinâmicas que vimos nos Focus anteriores, de mercado ainda aumentando as expectativas de inflação para 2021 e 2022 e projetando uma atividade econômica bem mais fraca para o ano que vem.

Inclusive, alguns economistas e instituições financeiras vêm apontando uma atividade econômica ainda mais fraca, com uma projeção de crescimento abaixo de 1 por cento para 2022.

Entenda a crise da Evergrande na China

Nas últimas semanas, o humor dos investidores nos mercados financeiros internacionais azedou muito por conta de um potencial colapso da companhia de construção chinesa Evergrande.

O mercado desconfia de um possível “efeito dominó” da dívida da segunda maior incorporadora da China e vem indicando que a incorporadora poderá ser o próximo Lehman Brothers, o banco americano que quebrou em setembro de 2008 e desencadeou uma das maiores crises financeiras da história.

O Bruce, sócio-fundador da Nord Research, contextualiza que o clima ruim na China piorou com o temor de calote da rolagem da dívida da construtora, estimada em mais de 300 bilhões de dólares.

Como ainda não há uma solução, as ações da chinesa Evergrande continuam caindo e ontem (20) fecharam com uma desvalorização de -10,2 por cento depois de cair -19 por cento, indo para mínimas de 11 anos.

O subíndice da bolsa de valores de Hong Kong para o setor imobiliário da China continental também encerrou em uma queda acentuada na sessão de hoje, acumulando agora perdas de 33 por cento no ano.

No entendimento do Bruce, ainda que não tenha ocorrido um pronunciamento oficial das autoridades chinesas, é possível que o governo opte pela quebra da Evergrande e, para evitar efeitos secundários, resgate clientes, fornecedores e prestadores de serviços da incorporadora.

Com isso, o governo chinês conseguiria salvar o pequeno (comprador da casa) e deixar o grande (acionistas e credores) com prejuízo.

Qual a gravidade da crise da dívida da Evergrande para o Brasil?


Temor global. Será que a China está passando pelo seu subprime com a Evergrande? A resposta é “ninguém sabe”.

A especialista em macroeconomia e sócia-fundadora da Nord Research Marilia Fontes comenta que não consegue imaginar o tamanho do contágio dessa crise na economia global.

Mesmo não sendo possível antecipar, Marilia disse que é uma situação muito complicada, que precisa ser resolvida e que significa, principalmente, crescimento para baixo na economia chinesa porque o mercado financeiro no país é muito alavancado.

Sobre esse aspecto, Marilia disse que o principal impacto é nos preços das commodities, respondendo ao medo do contágio da crise do setor imobiliário chinês.

Por conta desse clima, nas últimas semanas, temos visto o minério de ferro derreter e também outras atividades dependentes das commodities apresentarem quedas. Lembrando que o Brasil exporta commodities agrícolas e minerais para a China.

Em relação aos investidores brasileiros, o que esperar? Podemos pensar em dois grandes impactos:

1. Negativo. O preço da commodity para baixo impactando o Ibovespa. Inclusive, de certo modo, isso já vem acontecendo com a desvalorização nos preços de Vale (VALE3) e outras siderúrgicas.

2. Positivo. A queda nas commodities traria um arrefecimento no Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) na parte de alimentos e, talvez, na construção. Mas, para isso acontecer, depende muito do nosso câmbio porque se os preços caírem, mas o câmbio piorar muito, talvez a gente fique no “zero a zero” por conta da nossa economia ser mais exposta à China, nosso principal parceiro de exportação.

Outro destaque positivo na queda dos preços das commodities é que o Banco Central (BC) poderia não aumentar tanto a taxa de juros no país.

Minério em queda livre

Como dissemos acima, a crise da incorporadora mostra uma desaceleração do setor de construção civil na China, o que afeta negativamente na exportação de minério de ferro que o Brasil faz para o país.

Ontem (20), acompanhando o cenário global, as ações da Vale (VALE3) registraram queda de -3,29 por cento, a 83,31 reais,  mesmo após anúncio de dividendo de 8,10 reais da companhia.

O analista de ações Fabiano Vaz disse que a crise na China já começou a contaminar os preços das commodities, como vemos com a queda do minério, por exemplo. Um agravamento poderia prejudicar ainda mais o nosso país, que é superexportador.

Ao analisar as principais commodities, desde o final de 2018 e removendo o petróleo, o Fabiano identificou uma alta forte nos preços do minério em relação às outras commodities em julho de 2020, muito por conta da aceleração do mercado imobiliário na China, entretanto, nas últimas semanas, vem desenvolvendo rápido essa alta.

Gráfico – minério; ouro; milho; soja; algodão e petróleo.
Fonte: Bloomberg

O analista alerta que como ninguém sabe ainda os desdobramentos dessa crise, há um grau de incerteza muito grande. Por isso, no curto prazo, teremos uma volatilidade grande nos papéis ligados às commodities até os investidores terem mais clareza dos reais impactos no crescimento da China.

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