2 ações brasileiras para enfrentar a escalada de juros

Os futuros de índices acionários americanos sobem na manhã desta sexta-feira

Nord Research 20/05/2022 13:00 11 min
2 ações brasileiras para enfrentar a escalada de juros

Nord Insider

Nesta sexta-feira, 20, o pré-mercado de Nova York abre em alta, buscando recuperar os dias mais turbulentos da semana.

Na agenda econômica, os investidores estarão atentos ao vencimento de opções sobre ações na B3. Nos Estados Unidos, com a agenda fraca, o mercado se volta para as preocupações em torno da inflação e do aumento das taxas de juros.

Principais assuntos de hoje:

  • Exterior vê risco de recessão na economia;
  • 2 ações brasileiras para enfrentar a escalada de juros;
  • Listagem nos EUA: Americanas X Inter;
  • The Big Short: Luiza Trajano e o Magalu.

Temor com recessão global pesa nos mercados


Os últimos tempos têm sido um dos mais difíceis de navegar. O medo da recessão provocou na quinta-feira, dia 19, uma nova sessão de perdas no exterior. Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 fecharam em queda de -0,75 por cento, -0,58 por cento e -0,44 por cento, respectivamente.

O que preocupa o mercado hoje

Em um mundo de inflação altista, os bancos centrais estão buscando atenuar os seus efeitos com uma das suas principais ferramentas: os juros.

Explicando… de forma mais geral, a elevação da taxa de juros tem um propósito bastante específico: desaquecer a demanda da economia e assim conseguir controlar a escalada dos preços.

O especialista em fundos, Luiz Felippo, aponta que o que temos visto na economia  americana é um desaquecimento da demanda, inclusive com redução no lado industrial já sendo sentida por esse aperto de condições financeiras.

Entretanto, o debate atual nos EUA envolve se o ajuste de juros necessário para trazer a inflação para a meta informal de +2 por cento não colocaria a economia americana em recessão.

Essa é uma pergunta difícil de responder e nos parece que ninguém chegou a uma conclusão definitiva. O mercado, entretanto, já está “flertando” em precificar uma recessão à frente com a curva de juros americanos muito próxima de se inverter.

Gráfico à esquerda: ISM versus índice de condições financeiras; gráfico à direita: inclinação da curva de juros e crescimento do PIB americano (YoY%).

Na hipótese de uma recessão americana, naturalmente isso teria impactos nos preços de diversos ativos de risco ao redor do mundo.

…do outro lado do mundo. Em meio a todo esse xadrez econômico americano, ainda temos outra turbulência: a China voltando a fazer lockdown em algumas cidades com a escalada dos níveis de casos de Covid-19.

A estratégia de Covid-zero parece estar funcionando, mas isso implica um nível de atividade econômica potencialmente menor, observa o nosso analista — afinal, não se produz ou se consome em confinamento.

Vale mencionar que uma paralisação da China traz implicações tanto para a demanda de algumas commodities quanto para as cadeias de suprimentos e logísticas globais.

De um lado, uma potencial desaceleração chinesa seria um risco para os preços de algumas commodities mais demandadas pela China. Nesse caso, a solução seria a China apertar novamente os botões do crédito ou do lado fiscal. Esse é um ponto a se monitorar.

Do outro, as paralisações aumentam as pressões de inflação nas economias centrais e dificultam o trabalho dos banqueiros centrais em trazer a inflação para baixo.

Gráfico à esquerda: ISM versus índice de condições financeiras; gráfico à direita: cadeias de suprimentos pioraram em março – prazo de entrega fornecedores (pesquisa EUA)

O cenário é bastante complexo, com mais nuvens e incertezas do que o costumeiro. Nosso analista recomenda que um pouco de cautela, no momento, nunca é demais.


2 ações pagadoras de dividendos com muito caixa para enfrentar escalada de juros

Como estamos falando sobre a probabilidade de uma recessão econômica global, o que pode levar os países emergentes a fazer maiores sacrifícios de estabilização de inflação, juros e atividade, selecionamos duas ações de empresas que pagam dividendos para você investir neste primeiro semestre.

Detalhe: são empresas que geram muito caixa, e com isso tendem a ser mais resilientes frente a esse cenário mais desafiador.

Guilherme Tiglia, analista responsável pela carteira Nord Dividendos, comenta a seguir as duas ações que ele está bastante otimista em relação à tese.

Energias do Brasil, EDP, (ENBR3)

A EDP possui uma política de dividendos que estabelece um payout mínimo de 50 por cento do lucro líquido ajustado, com uma alavancagem alvo de 2,5x a 3,0x. Em 2021, o payout entregue foi de 75 por cento, com pagamento total de 1,3 bilhão de reais aos acionistas. Negociando a um valuation barato de 5x EBITDA para 2022, temos uma visão positiva.

Para este ano, o foco da companhia é crescer em transmissão, o que deve trazer bons resultados. Para isso, ela participará do leilão de transmissão a ser realizado no meio deste ano. Além disso, vemos possíveis ganhos com a venda de ativos de usinas hidrelétricas. O plano é vender três ativos ainda neste ano.

Na parte de geração em fontes renováveis, uma frente importante de crescimento futuro, o foco continua sendo em energia solar. A empresa tem como meta atingir 1GW de capacidade instalada de energia solar fotovoltaica até 2025 — como base de comparação, a cia. apresenta hoje 2,2GW de Hídrica e 0,7GW de Térmica —, e a maior parte desse crescimento deve vir de geração distribuída.

Os indicadores de endividamento da EDP Brasil estão dentro da normalidade e a posição em caixa da companhia é de 2,7 bilhões de reais.

Avaliamos a EDP como um player defensivo e que costuma sofrer menos com a volatilidade nos mercados.

Engie Brasil (EGIE3)

Como a EDP, a Engie Brasil também é uma empresa com bastante previsibilidade na sua operação. Ela pertence a um setor mais defensivo, resiliente, com crescimento contratado, com capacidade de repassar inflação e que apresenta boa geração de caixa (se traduzindo em bons níveis de dividendos). Além disso, negociando a um valuation em torno de 8x EBITDA, recomendamos compra para EGIE3.

No primeiro trimestre de 2022, a companhia investiu 1 bilhão de reais e prevê ainda investimentos de mais 2,4 bilhões de reais ao longo do ano de 2022. A posição de caixa, na ordem de 4,6 bilhões de reais, e a relação dívida líquida/Ebitda de 2,2x, mantêm a companhia em condição financeira confortável, em linha com a disciplina financeira necessária para o crescimento projetado.

Adicionalmente, destacamos que, no início do ano, a empresa anunciou uma distribuição de dividendos de 1,189 bilhão de reais, totalizando 2,038 bilhões de reais, ou 2,49 reais por ação, referente ao exercício de 2021. Com isso, a companhia alcançou um payout equivalente a 100 por cento do Lucro Líquido em 2021, o que reforça nossa visão de que a Engie é uma das nossas preferidas como pagadora de dividendos.

Um porto seguro em meio à tempestade

Avaliamos que os atuais níveis de preço de EDP e Engie são atrativos e podem ser investimentos interessantes para quem busca uma posição mais defensiva para a carteira porque normalmente sofrem menos oscilações frente a um cenário macro mais adverso com a subida de juros — muito diferente de empresas tech e de crescimento elevado, que são mais sensíveis a juros, por exemplo.

Levando em conta o fluxo de caixa para iniciativas futuras de crescimento ou distribuição para acionistas como dividendos, reiteramos nossa visão positiva sobre ações do ponto de vista dos fundamentos e recomendamos Compra.


Listagem nos EUA: Americanas X Inter, qual a diferença entre eles?

Com a diversificação de serviços do Magazine Luiza nos últimos anos e o avanço de empresas estrangeiras, como o Mercado Livre e a Amazon, a B2W (antiga BTOW3) teve que se transformar para não ficar para trás. Em abril de 2021, a varejista online e as Lojas Americanas (LAME4 e LAME3) anunciaram uma reestruturação de seus negócios, que contemplava a fusão entre elas e uma possível futura listagem da nova empresa nos Estados Unidos.

Os planos, classificados como de longo prazo, tinham como objetivo reduzir a complexidade operacional e tributária das companhias e, por fim, levar à listagem da holding americanas inc. (isso mesmo, com letra minúscula) aos EUA.

Outra empresa brasileira que decidiu deixar a B3 foi o Inter (BIDI11). Em outubro de 2021, o banco digital iniciou seu movimento de reorganização societária para listagem de uma nova holding, a Inter&Co, na Nasdaq em Nova York.

Mas —  ao contrário dos planos da Americanas —  a proposta de reorganização do Inter é bem diferente e a migração para o mercado americano está em estágio bem mais avançado.

americanas: uma nova jornada de criação de valor

Num desenho que aumenta o alcance para além das fronteiras brasileiras e eleva o potencial de crescimento nos próximos anos, a B2W incorporou as Lojas Americanas, permitindo a criação de uma nova empresa, chamada apenas de americanas s.a. Com isso, as suas ações (BTOW3 e LAME4) deixaram de ser negociadas na B3 e a nova empresa passou a ser negociada pelo código AMER3.

Após a mudança, agora a companhia se prepara para criar uma holding (americanas inc.) listada nos Estados Unidos e que controlará a americanas s.a.

O analista Victor Bueno explica que a ideia da empresa ao ser listada na bolsa de Nova York é de conseguir captar recursos de investidores internacionais para acelerar os seus planos de expansão orgânica e, quem sabe, até mesmo adquirir outras empresas que possam agregar na construção de seu ecossistema de negócios.

A migração das ações do Inter para a Inter&Co

Já a proposta de reorganização societária do Inter, que está em sua segunda (e última) tentativa, tem como objetivo principal a migração da sua base acionária para os EUA e dar continuidade aos seus planos de se consolidar como uma empresa global. Além dos benefícios relacionados às suas ações, a transação também representa um novo passo que a companhia dá para expandir sua base de clientes para além do território brasileiro e replicar o seu ecossistema em outros países pelo mundo — EUA poderá ser apenas o primeiro.

Além disso, a mudança para os EUA é muito positiva para os acionistas do Inter, tendo em vista que a conclusão do processo aumenta ainda mais o potencial da companhia de entregar crescimento em seus resultados e, consequentemente, a tendência é que as ações acompanhem esse crescimento no longo prazo.

Vemos a reorganização como mais um passo que o Inter dá para se consolidar como uma empresa global. Vale lembrar que a empresa já havia realizado, recentemente, alguns movimentos voltados para esse objetivo, como a aquisição da USEND (possibilitou a criação de sua conta global) e do lançamento de seu home broker internacional para facilitar o acesso direto a ativos americanos para os seus clientes.

As preocupações que giram em torno da americanas

Assim como a reorganização do Inter, nosso analista entende que a proposta da americanas também traz muitos benefícios para a companhia, como uma melhora nos padrões de governança corporativa, mais liquidez para as ações e um maior potencial de expansão para novos mercados.

Porém existem, sim, os pontos de atenção, principalmente relacionados aos próximos passos após a conclusão da transação, tendo em vista que o cenário macro continua pressionando muito o setor varejista (inflação e juros altos) e a concorrência continua aumentando e obrigando que as companhias se reinventem a cada dia.

A nosso ver, o sucesso com uma possível listagem da americanas nos EUA dependerá muito dos planos da empresa para a utilização dos recursos que poderão ser captados, tendo em vista que o mercado de varejo está cada vez mais “exigente” e obrigando as empresas do setor a pensarem fora da caixa e irem além da venda de produtos.

A americanas já possui um marketplace consolidado, mas que pode acabar sendo apenas um dos negócios de um ecossistema mais completo no futuro, caso siga os caminhos de grandes empresas no setor, como o Magazine Luiza.


The Big Short

Luiza Trajano e o Magalu


Nascida e criada em Franca, interior de São Paulo, Luiza Helena Trajano deu início à sua vida profissional bem cedo, com apenas 12 anos de idade.

Ela abriu mão de suas férias escolares para trabalhar como balconista na loja de seus tios, o casal Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato. Na época, seu objetivo era comprar presentes de Natal para sua família e amigos.

Ao longo de sua adolescência, Luiza trabalhou de tudo na Cristaleira, uma pequena loja de presentes que foi comprada pelos seus tios em 16 de novembro de 1957. O negócio ganhou o nome de Magazine Luiza, em homenagem à tia, Luiza Trajano Donato, após um concurso cultural na rádio local.

Ao completar 18 anos, a sobrinha, Luiza Helena, passou a trabalhar de forma efetiva e, mais tarde, ao se formar em Direito e Administração de Empresas, ela chegou a ocupar cargos em todos os setores da empresa.

Em 1991, Luiza herdou o comando da tia e, durante o período em que comandou a rede, ela expandiu o negócio para fora do interior paulista, atingindo a marca de 1000 lojas do Magazine Luiza, distribuídas em 16 estados do Brasil, e um quadro com mais de 40 mil colaboradores.

Sob a sua gestão empreendedora, também foram criadas as chamadas Lojas Virtuais e em 2011 listou a companhia na Bolsa de Valores, sob o código MGLU3.

Hoje, a empresa está sob o comando de seu filho Frederico Trajano e Luiza ocupa a quinta posição entre as pessoas mais ricas do país, com fortuna estimada em 1,4 bilhão de dólares, segundo a Forbes.


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